Neste ano, ao contrário de 2011, a presidente terá que exercer mais protagonismo na área da política externa
Começo por onde o economista Luiz Guilherme Piva terminou seu belo artigo de sexta-feira para esta Folha, no qual lembrava que, "desde FHC, a permanência de políticas econômicas e a continuidade de alianças têm sido a norma; Lula seguiu tal caminho, que Dilma mantém".
Ou seja, há uma normalidade político-institucional que é estranha para a minha geração, habituada aos sobressaltos da ditadura, primeiro, e dos tumultuados tempos imediatamente posteriores. Piva termina com a constatação de que "o espanto não está na ordem do dia".
Uma boa lembrança para quem se preparava para cobrar, no primeiro ano da política externa de Dilma Rousseff, a falta de "espanto", ou seja, de fatos capazes de gerar manchetes, ao contrário do que ocorrera com grande frequência nos oito anos de seu antecessor e padrinho.
Jornalistas vivemos do espanto, no sentido dado por Piva. Tanto que nos habituamos a dividir os personagens que acompanhamos entre os que "dão lide" e os que não dão. Lide é o aportuguesamento de "lead", a abertura de um texto que, como o nome indica, deveria conduzir o leitor a ler todo o restante.
Suspeito que 11 de cada 10 companheiros concordarão em que Dilma "não dá lide". Seu chanceler, Antonio Patriota, tampouco.
Desse ponto de vista enviesado, a política externa foi, portanto, um fracasso, pelo menos na comparação com Lula e até com Fernando Henrique, que não era tão espetacular quanto Lula, mas "dava lide".
Ocorre que o que é bom para o jornalismo pode não ser para o país ou para a ação de um governante. A ausência de espanto na política interna não causou mal algum ao país.
Ao contrário, o desempenho do Brasil neste ano foi, digamos, normal, no que a normalidade tem de bom e de ruim por estes trópicos (a corrupção, por exemplo, seguiu seu curso "normal", o que é muito ruim).
Por isso, começo o ano na dúvida sobre se a normalidade é boa também para a política externa ou se um pouco mais de protagonismo da presidente seria preferível. Afinal, nos tempos que correm, a diplomacia é feita muito mais pelos chefes de governo do que pelos chanceleres, a tal diplomacia presidencial da qual Lula foi o grande expoente.
Suponho que este ano será decisivo para desfazer minha dúvida. Ao contrário de 2011, em que participou de poucos grandes eventos internacionais, Dilma estará envolvida em cúpulas relevantes: a Rio+20, da qual será a anfitriã; a Cúpula das Américas, o reencontro de Barack Obama com desafetos como Hugo Chávez; a cúpula do G20 no México, em que o clubão das maiores economias terá que se decidir entre atuar ou se tornar irrelevante; a cúpula União Europeia/América Latina-Caribe, a primeira em que os europeus estarão na posição de maus alunos diante de suas antigas colônias, quase todas em estado de saúde econômica mais hígido.
Nelas, Dilma pode não provocar "espanto" e, portanto, pode não "dar lide", no sentido jornalístico do termo. Mas seria bom que o fizesse na acepção inglesa da palavra: liderar, conduzir. Um 2012 melhor que 2011 e pior que 2013 a ela e a todos.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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