Nossa indústria está virtualmente estagnada desde 2008: enquanto o PIB total acumulou alta de 16 % em 4 anos, o PIB da indústria de transformação cresceu só 4 %
O ano de 2011 vai se encerrando com uma expressiva desaceleração na atividade econômica. Como a maior parte dos analistas, a MB projeta um crescimento de 2,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano. Entretanto, na ponta, o crescimento dos últimos meses tem sido próximo de zero.
Na composição do PIB, serviços e construção civil crescem na faixa dos 3%, agropecuária e extrativa mineral entre 2,0 e 2,5% e, bem atrás a indústria de transformação deverá se expandir entre zero e 0,5%.
Na verdade, o mal desempenho da indústria de transformação não ocorreu apenas neste ano; a realidade é que nossa indústria está virtualmente estagnada desde 2008. Enquanto o PIB total acumulou uma alta de 16 % nos últimos 4 anos, o PIB da indústria de transformação cresceu apenas 4 %.
Por que isso está ocorrendo? Por que o crescimento da demanda não levou a uma rápida elevação da produção, ao contrário do que vem ocorrendo em boa parte dos serviços e do agronegócio?
De uma maneira bem geral, podemos dizer que a expansão do agronegócio apresenta as seguintes características: farta produção de pesquisa e inovações, transformadas em pacotes tecnológicos, que tem elevado sistematicamente a produtividade. Ao mesmo tempo, as cotações internacionais foram bastante boas, o que permitiu compensar a valorização do real e elevar a produção.
No setor de serviços, a expansão decorreu em parte da contínua introdução de melhorias tecnológicas, como nos casos de telecomunicações, de finanças e de grandes áreas de comércio, como os supermercados, onde as cadeias de suprimentos e distribuição se sofisticaram de forma significativa.
Ao mesmo tempo, a natural ausência de competição externa (com exceção do turismo), permitiu uma sistemática elevação de preços, acima da média da inflação, de sorte a compensar as elevações nos custos de produção. Entre 2008 e este ano, até novembro, a inflação acumulou 25% e os serviços tiveram alta de 33%.
Na indústria, ao contrário, o cenário foi muito mais áspero. O efeito deflacionário da produção chinesa e a valorização do real puseram uma extraordinária pressão dos setores mais tradicionais, como calçados, têxtil e vestuário, neste caso agravado por sistemáticas práticas desleais de comércio.
Entretanto, as elevações generalizadas de custos de produção me parecem a chave para entender o fraco desempenho na produção industrial nestes anos, mais ainda do que a questão cambial.
Na verdade, um largo conjunto de fatores está destruindo a competitividade sistêmica do nosso aparelho produtivo, inclusive porque a produtividade tem crescido muito pouco neste período, de sorte que a elevação de custos bate direto nas margens.
Ao contrário do setor de serviços, a possibilidade de importar limita demais o repasse de custos para preços. Espremida entre altos custos e importações muito competitivas, nossa indústria buscou, em massa, o caminho da importação de partes, peças, conjuntos e até bens acabados, como forma de elevar a oferta e competir com o concorrente produzido no exterior. Como resultado, boa parte do estímulo do crescimento da demanda vazou para fora do País.
O espaço é curto para uma elaboração mais detalhada das pressões de custos, mas os suspeitos são bem conhecidos: transportes precários, energia cara, aguda escassez de mão de obra treinada, custo do capital de giro e um sistema tributário pesado.
Neste caso, por exemplo, basta pensar nos créditos de impostos não devolvidos, nos custos das obrigações parafiscais e no fato que o sistema penaliza a terceirização e o alongamento das cadeias produtivas, exatamente na contramão do que é necessário para dar foco às empresas e elevar a produtividade. Nessas circunstâncias, a indústria tem de escolher entre dois caminhos.
O primeiro caminho, que estamos namorando perigosamente, é defender o emprego e a produção nacionais com protecionismo e favores a campeões escolhidos, com subsídios que apenas mascaram e postergam problemas e que acabam resultando em maiores elevações da própria carga fiscal, colocando a busca de maior produtividade, de fato, em segundo plano.
O caminho alternativo é manter a economia aberta e aproveitar os estímulos que o mundo nos oferece e simultaneamente enfrentar a dura agenda de elevar a competitividade sistêmica, olhando as causas dos nossos problemas.
Não tenho dúvida que o desenvolvimento de longo prazo é cada vez mais resultado da introdução sistemática de conhecimento, de qualidade e eficiência no sistema produtivo.
É economista
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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