Por Paola de Moura
RIO - Depois de dois meses de disputas internas, de uma tentativa de impugnação de chapa, de mudanças na forma de escolha do candidato e de uma intervenção da direção nacional, no início de março, o PT de Niterói elegeu seu pré-candidato a prefeito. O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Rodrigo Neves, foi o escolhido, batendo o deputado federal Chico D"Angelo.
A disputa em Niterói mostra como o PMDB tem influência sobre os petistas no Rio. O secretário conta com o apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB) que tenta impor o candidato a seu partido. Isto porque, o PMDB, liderado pelo presidente regional Jorge Picciani, quer apoiar o atual prefeito Jorge Roberto do Silveira (PDT).
Na capital fluminense, o PT está fechado com o PMDB mais uma vez. O vereador Adilson Pires (PT) será vice na chapa para reeleição do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB). Mas nos bastidores o próprio PMDB tenta chapa puro sangue. Isto porque o candidato à sucessão do governador Cabral é o vice-governador Luis Fernando Pezão. Considerado um bom político, porém sem carisma, seus partidários temem que Pezão não consiga deslanchar na campanha, principalmente se um de seus opositores for mesmo o senador Lindbergh Farias, que foi eleito com 4,2 milhões de votos e já foi prefeito de Nova Iguaçu por dois mandatos consecutivos. Político em ascensão e com carisma, Lindbergh poderia tornar mais difícil a vitória de Pezão.
O plano B do PMDB seria catapultar o prefeito Eduardo Paes, considerando que ele seja reeleito este ano, ao governo do Estado. O problema então estaria na Prefeitura da capital, que cairia de bandeja nas mãos do PT, diz um cacique peemedebista local.
"Na prática, o PT e o PMDB do Rio se detestam. Mas, em nome da aliança nacional, seguem juntos", diz o cientista político da PUC do Rio, Ricardo Ismael. Se o acordo for quebrado, a solução do PT seria o deputado federal Alessandro Molon.
Eleito com 129 mil votos, Molon já disputou a Prefeitura em 2008, último ano em que o PT teve candidato próprio a cargo majoritário na capital. Naquela época, o partido levou uma rasteira do PMDB. O PT havia costurado inicialmente um acordo com o aliado. Mas numa manobra interna do partido do governador, na última hora, o então secretário estadual de Esporte e Turismo, Eduardo Paes, deixou o PSDB e saiu vitorioso numa disputa apertada no segundo turno com o então deputado federal Fernando Gabeira (PV).
O dia da votação, no primeiro turno, foi bastante conturbado. O Exército ocupou comunidades para evitar venda de votos. Molon não contou com o apoio do presidente Lula que também era disputado pelo senador Marcelo Crivella (PRB) e pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Além disso, a esquerda carioca acabou dividida entre o candidato petista, o deputado federal Chico Alencar (PSOL), Jandira e Gabeira. No fim da apuração, Molon ficou em quinto lugar.
"Eu acredito que o PT precisa trilhar seu caminho e não transformar em um subalterno", explica Molon. "Sou contra esta política que está estabelecida no Rio. Nossa origem é de lutas sindicais, em movimentos sociais. E elas se contradizem na forma como estão se dando as remoções nas favelas pela Prefeitura ou na concessão dos hospitais para as organizações sociais (OS) na saúde estadual. O PT sempre combateu isto", afirma.
Agora com o manifesto dos insatisfeitos, líderes do PMDB no Rio voltam a discutir se a aliança que dá uma vaga de vice na chapa de Eduardo Paes venha a vingar. "No Rio, nós somos maioria. É fato que o PMDB não está satisfeito de ter o PT de vice", afirma um deputado peemedebista influente..
A aliança com o PMDB tem também resultado em perda de espaço na política local. Foi no Rio, que Lula obteve seu maior percentual de votação na primeira eleição, 78,97% em 2002. Mas a união do PT com o PMDB não trouxe o mesmo resultado na eleição da presidente Dilma Rousseff: enquanto Cabral foi eleito no primeiro turno com 68% dos votos válidos, Dilma obteve na primeira votação 43,76% e na segunda, 60,48%, sem atingir o percentual conseguido pelo governador.
Na Assembleia Legislativa, o número de deputados permanece praticamente estável. Na eleição de 2010, aumentou de cinco para seis, do total de 70 parlamentares. Já na Câmara dos Deputados, a queda é mais evidente, em 2002, foram sete deputados petistas eleitos pelo Rio. Em 2006, seis, e, em 2010, cinco.
Outro expoente do partido, o senador Lindbergh Farias, que já anunciou oficialmente sua candidatura a governador em 2014, se aproveita de situações de conflito para reclamar e dizer que o PT fluminense tem que ser mais respeitado. Foi o que fez quando Picciani deu entrevista ao Jornal "O Dia" dizendo que não seria sempre aliado do PT no interior em contrapartida do apoio na capital. Picciani chegou a criticar vários prefeitos do partido. Lindbergh então disse que poderia romper o acordo inicial. Mas, depois, chamado a São Paulo para conversar com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, silenciou.
Na avaliação de Ismael, não interessa a Lindbergh que Molon cresça politicamente para não se tornar um adversário dentro de seu próprio partido. Além disso, o apoio do PMDB o ajudou a ultrapassar o ex-prefeito Cesar Maia e o próprio Picciani na eleição de 2010 e ser o senador mais votado do Estado. Procurado insistentemente pelo Valor, por duas semanas, o senador Lindbergh Farias não retornou as ligações.
Além disso, políticos do partido e analistas avaliam que expoentes mais antigos do partido estariam em decadência e já não conseguiriam sozinhos sustentar votação sem ter cargos políticos, por isso mantêm a aliança.
A deputada federal, Benedita da Silva (PT), que já teve 2,2 milhões quando foi eleita senadora em 1990 e, na última eleição, recebeu 71.036 votos, não acredita nesta tese. "O eleitorado mudou e nós passamos muito tempo sem nos candidatar. Eu, por exemplo, não concorro há 17 anos. É natural a votação cair", defende. Benedita diz que a aliança com o PMDB faz parte do plano nacional do partido.
"No Rio estamos trabalhando para fortalecer o partido. Temos hoje oito prefeituras e teremos candidatos na cabeça de várias chapas, como Niterói, São Gonçalo, Angra dos Reis e Caxias. Além das oito prefeituras que temos", avalia. "É um partido que cresce em todo o país. Estamos no terceiro mandato presidencial". A deputada diz que hoje o partido vai além do sindicalismo ou das entidades sociais. "Somos evangélicos, católicos, somos congressistas e empresários. O Estado do Rio só ganhou com a aliança".
Benedita afirma que o acordo com o PMDB não é eterno. "Hoje não existe nenhum compromisso firmado para eleições futuras, agora não estamos tratando disso. É muito natural que nos unamos hoje com o prefeito. Mas as alianças são conjunturais. O plano nacional é mais importante".
Mesmo assim, o PMDB não vê com os mesmos olhos as alianças e não defende esta expansão do PT pelos municípios. Além de Niterói, o partido deve ter candidato próprio na maioria dos principais municípios do Estado, como São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Itaboraí e Campos.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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