Para todos os problemas complexos, como se sabe, há uma solução simples -em geral, errada. A corrupção endêmica na política é um desses casos para os quais não há saídas fáceis. O episódio recente envolvendo o senador Demóstenes Torres dá algumas pistas do que poderia ser feito.
Demóstenes recebeu presentes de casamento de um empresário acusado de contravenção. Também se prestou a atender dezenas de telefonemas do notório Carlinhos Cachoeira. As conversas versavam sobre como influir na tramitação de projetos de lei no Congresso.
Em miúdos, Demóstenes exerceu a antiga prática do lobby. Exceto se aparecer prova de dinheiro grosso nessa relação, o maior pecado do senador foi esconder do público essa sua atividade na defesa dos interesses de um empresário ligado ao ramo do jogo e da contravenção.
Não haveria nada de errado nem de ilegal se Demóstenes fosse à tribuna do Senado semanalmente para relatar os pontos de vista de Carlinhos Cachoeira. Bem, a imagem do senador não seria mais a de paladino da Justiça. Mas ele não cometeria quebra de decoro. Essa hipótese, por óbvio, é só uma alegoria. Tudo para ir ao seguinte ponto: falta ao Brasil legalizar e regulamentar o lobby. Identificados com um crachá, representantes dos mais diversos setores têm o direito de circular pelo Congresso ou ministérios defendendo suas causas e as de seus patrões.
É bom quando ativistas a favor do ambiente, da liberação dos jogos ou de mais verbas para estradas se manifestam de forma livre, aberta. Essas ações não podem ser nas trevas nem com a ajuda disfarçada de deputados e senadores.
A legalização do lobby não elimina o tráfico de influência. Também não garante uma política livre de casos como o de Demóstenes. Mas a adoção da regra seria um passo relevante para sanear o ambiente.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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