Conselho de Ética do Senado deve aprovar amanhã relatório que pede abertura de processo contra Demóstenes
Cristiane Jungblut
BRASÍLIA. A CPI do Cachoeira deflagra, nesta semana, uma maratona de depoimentos, mas a batalha nos bastidores é sobre a convocação ou não dos governadores citados direta ou indiretamente nas investigações. O longo calendário de depoimentos - cujo ponto alto será o do próprio bicheiro Carlos Cachoeira, no próximo dia 15 - foi adotado como forma de ganhar tempo na discussão sobre chamar ou não os governadores Marconi Perillo (GO), Agnelo Queiroz (DF) e Sérgio Cabral (RJ), que tiveram seus nomes envolvidos no caso, mesmo que indiretamente.
Amanhã, o Conselho de Ética do Senado deve aprovar relatório do senador Humberto Costa (PT-PE), que pede abertura de processo contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), por seu envolvimento com Cachoeira. Quinta-feira, haverá depoimentos de representantes da PF e do Ministério Público.
Governistas querem ganhar tempo
O PT quer a convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo, enquanto a oposição ameaça com pedidos de convocação dos governadores do Distrito Federal e do Rio. Os três governadores têm negado qualquer envolvimento no esquema de Cachoeira.
O Palácio do Planalto está preocupado que um clima mais tenso na CPI contamine a votação da medida provisória 567, que muda as regras de correção da caderneta de poupança. Os líderes pretendem votar a MP até julho e não querem que uma guerra na CPI comprometa a votação.
A tática dos governistas é ganhar tempo com o calendário de depoimentos já acertados. O primeiro depoimento será amanhã, quando a CPI vai ouvir o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza, responsável pelas apurações da Operação Vegas.
Ontem, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos titulares do partido na CPI, disse que a estratégia sobre a chamada ou não dos governadores começará a ser discutida essa semana. O petista diz que apenas Perillo deve ser chamado.
- Nesta semana, o foco será ouvir as pessoas que comandaram os inquéritos e preparar a estratégia para o momento seguinte, que é a questão dos governadores. É inevitável chamar o governador de Goiás, porque ele tem relações econômicas com Cachoeira e muito a explicar - disse Paulo Teixeira.
Antes de novas convocações, dados do STF serão analisados
Mas o petista não considera necessário ouvir Agnelo ou Cabral. No caso do petista Agnelo Queiroz, gravações da PF indicavam suposta ligação do seu ex-chefe de gabinete, Claudio Monteiro, que pediu demissão, com o esquema.
Já Cabral teve exposta sua amizade com Fernando Cavendish, dono da construtora Delta e que se afastou do comando da empresa. Nas investigações da PF, a Delta foi envolvida devido a gravações ligando Claudio Abreu, seu ex-diretor para o Centro-Oeste, com o esquema.
- A tática da oposição, ao querer ampliar a investigação, é transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Delta. Isso é para não dar em nada - disse Paulo Teixeira, negando que poderia haver um acerto para que nenhum governador fosse chamado.
Esta postura de integrantes do PT contraria a orientação do próprio relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), que decidiu que, antes de decidir futuras convocações, serão analisados os dados enviados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Documentos são guardados em "sala-cofre" no Senado
Desde a última sexta-feira, funciona no Senado a chamada "sala-cofre", onde estão os dados. Além disso, até o final do mês, haverá depoimentos de investigadores e citados pela PF como membros do esquema de Cachoeira.
- Temos que analisar os documentos (antes de convocar mais pessoas). Vamos chamar o Cabral por quê? Porque ele foi à França (com Cavendish)? - disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), para quem isso não tem relação com a CPI.
A tática do PSDB é forçar a convocação dos três governadores, ou de nenhum. O requerimento pedindo a convocação dos governadores foi já apresentado pelo líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR).
- Há uma tentativa de se obstruir as convocações e as investigações. Lamentavelmente, isso é da natrueza do PT, mas temos que investigar tudo e todos - comentou Rubens Bueno, integrante da CPI.
Fonte O Globo
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