Agremiações não conseguem informar posicionamentos sobre temas básicos a um interessado na filiação
Guilherme Amado
Na pequena sala do diretório do PP no Distrito Federal, a senhorinha surpreendeu-se com a pergunta do eleitor interessado em se filiar, ávido por saber qual era a posição do partido sobre a descriminalização do aborto. A segunda indagação, sobre pena de morte, também não era esperada. E alianças, existe alguma restrição? O vacilo nas respostas foi rapidamente resolvido quando ela empilhou meia dúzia de livretos, do estatuto do PP a um apensado sobre as realizações de Paulo Maluf (SP) como parlamentar. "Tem tudo aí."
Nos primeiros dias de maio, o repórter visitou como eleitor os diretórios de nove dos 10 partidos com maior representação no Congresso: PT, PMDB, PSDB, PP, PSB, DEM, PR, PDT e PTB. Só faltou a quarta maior bancada, do PSD, que ainda não possui um diretório nem telefone para atender o público. Nas visitas, o Correio fez perguntas a filiados sobre a definição ideológica de cada sigla, as posições sobre temas polêmicos e a política de alianças adotada.
Entre os que se aventuraram a responder, poucos foram conclusivos. Nas respostas, ideologias, opiniões firmes e coerência entre o discurso e a prática passaram longe. Fora o PP, os filiados do PTB, do PR e do PMDB que atenderam o repórter também não conseguiram definir ideologicamente as legendas de que fazem parte. Os quatro partidos deram respostas vagas. "Não tem mais essa divisão. Não existe mais essa coisa de esquerda e direita", alegou a peemedebista.
No PR, a orientação foi para, uma vez dentro do partido, buscar a aproximação com algum deputado. "A gente não pode ser hipócrita e dizer que todos nós não temos nossos interesses particulares, né?", sugeriu o filiado. Já a funcionária encarregada de conversar com interessados em se filiar ao DEM não conhecia o estatuto. Não soube responder, por exemplo, se a defesa da redução de impostos, discurso frequente do partido, faz parte do estatuto. "Boa pergunta, hein?"
Defender causas e assumir posições foi difícil. À exceção do PT e do PDT, cujos militantes souberam defender algumas posturas de suas legendas sobre esses temas, os demais patinaram. Alguns admitiram até que as opiniões são diretamente proporcionais ao interesse eleitoral. "Um partido, se for a favor (da descriminalização) do aborto, só vai arrumar inimigo. A Igreja Católica, os evangélicos, que são hoje uma grande quantidade, são contra o aborto. Quem vai se meter nessa? (Se for a favor,) não elege ninguém", defendeu a filiada do PP. A tradicional polêmica no PSDB sempre que emerge o tema privatizações também não pareceu estar superada. "Posição fechada nunca tem, né?", resumiu a filiada tucana.
Fonte: Correio Braziliense
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