A presidente Dilma Rousseff dá uma no cravo e outra na ferradura. Aumenta ainda mais os seus índices de popularidade ao comprar a briga com bancos e juros altos, mas se prepara para gastar um pouco desses índices ao mexer na caderneta de poupança.
Nos dois casos, Dilma age dentro da lógica de mercado: em tempos de paz financeira, sem ameaças de ataques especulativos, não faz o menor sentido manter juros estratosféricos; e, com a queda dos juros, o governo não pode assistir impassível à fuga dos investimentos para a poupança, que rende pouco, porém com baixo risco e sem taxas e impostos.
Mas há nos bancos um estigma e, na poupança, um dogma. Enfrentar "a lógica perversa" dos bancos é altamente popular, porque eles são o setor mais odiado e nunca lucraram tanto quanto no governo Lula e no início do governo Dilma. Já mudar as regras da poupança é altamente impopular, é mexer com bolsos e almas.
É se fortalecendo no combate contra os bancos e os juros que Dilma ganha "gordura" para queimar na mexida da poupança, que será certamente cercada de cuidados.
Um deles será o teto. Os maiores poupadores pagarão o pato, os pequenos serão preservados. O outro será o prazo. Provavelmente, as regras valerão apenas para os futuros depósitos -como no caso do Funpresp (o novo fundo de previdência privada para o funcionalismo).
Essa operação de bater nos juros e conter a poupança envolve um equilíbrio delicado -financeiro, gerencial e particularmente político, que exige conhecimento e sensibilidade de marketing. Ou seja, exige também um equilíbrio entre a "técnica" Dilma e o "mago" João Santana.
Se é para apostar, Dilma vai ganhar muito contra os bancos e perder pouco contra a poupança. Já tem o recorde de popularidade para esta fase de governo, caminha para ser endeusada. O recorde de 80% de Lula está seriamente ameaçado.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário