quinta-feira, 3 de maio de 2012

Para MPF, relato ajudará nas provas

Quatro das dez mortes citadas por ex-delegado já estão sendo apuradas

SÃO PAULO. O Ministério Público Federal já investiga quatro das dez mortes citadas pelo ex-delegado Cláudio Guerra no livro "Memórias de uma guerra suja". Segundo o ex-policial, que chefiou o Dops, os militares incineraram dez militantes de esquerda numa usina de açúcar em Campos dos Goytacazes, entre eles o líder comunista David Capistrano, preso em março de 1974. O Grupo de Justiça de Transição, montado pelo MPF para investigar os crimes da ditadura, busca provas para solucionar as mortes do casal Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva, de João Massena Mello e de Luiz Ignácio Maranhão Filho, dirigentes do PCB. As investigações fazem parte do conjunto de ações estudadas pelo MPF para criminalizar agentes da ditadura por sequestro.

- Trata-se de confissão que, por si só, não soluciona os casos, mas é mais um elemento de prova, de investigação- afirma a procuradora da República Eugênia Gonzaga, lembrando que alguns pontos relatados por Guerra coincidem com depoimentos de testemunhas da época.

Um desses pontos coincidentes é a afirmação de que "haviam arrancado a mão direita" de David Capistrano.

- As informações são consistentes. Vamos reunir as informações e seguir para a usina de Campos em busca de depoimentos - afirma Diogo.

Para o deputado, a Comissão da Verdade deve intimar Guerra para depor sobre os casos de desaparecidos e também sobre a morte do delegado Sergio Paranhos Fleury. Segundo Guerra, "o delegado Fleury tinha de morrer e que "foi uma decisão unânime" numa votação no restaurante Baby Beef da qual participaram os coronéis Freddie Perdigão e Ênio Pimentel da Silveira (já mortos), o coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva, o comandante Antonio Vieira, o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra e o ex-delegado Aparecido Laertes Calandra.

- Ele deve ter se enganado. Eu nunca o conheci - disse Laertes Calandra.

Já o advogado Paulo Esteves, que representa Brilhante Ustra, considerou uma "fantasia":

- Papel aceita tudo, mas é preciso ter provas. Todos sabem como Fleury morreu, em Ilhabela, ao pular de um barco para outro, e bateu com a cabeça. Tinha bebido bastante - disse, afirmando ainda que Ustra "não pode se lembrar de uma coisa (a votação) que nunca existiu".

FONTE: O GLOBO

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