A Prefeitura do Rio está obrigada até dezembro a treinar uma dezena de comunidades localizadas em áreas geologicamente perigosas. Decisão da Justiça. Isso foi publicado muito discretamente nos jornais. São comunidades pequenas, pobres e distantes. Mas é um bom tema de reflexão. A sentença é bem intencionada e determina o prazo limite que já o início das grandes chuvas de verão.
Não podemos, entretanto, superdimensionar o treinamento. É preciso uma cooperação das comunidades que se prolonga depois dele. Em São Gonçalo, por exemplo, numa área que sempre alaga, há comunidades que se preparam a partir da própria associação de moradores.
Precisamos fazer uma cartilha como as do Caribe para a passagem dos furacões. De posse do texto, os próprios moradores podem desenvolver o dever de casa. O que contam uma cartilha desse tipo?
Simplesmente alguns conselhos que valem para todos. Em São Gonçalo, há uma comunidade que sabe com precisão onde ficam as canoas. Elas precisam estar sob controle, quando a água começa a subir.
Outra indicação importante: saber quais as pessoas que não podem se locomover sem ajuda e onde estão elas. Esse é um princípio presente nas cartilhas caribenhas e americanas. Mas foi esquecido em Nova Orleans, onde idosos se afogaram quando um asilo submergiu.
O fato de a Justiça ter cuidado do tema em pleno inverno parece extemporâneo. Mas não é. Os meses que nos separam das chuvas de verão são muito preciosos.
Neste ano, o verão será antecedido por eleições municipais. O candidato à reeleição será cobrado pelos cuidados na preparação das áreas vulneráveis.
Mas os outros candidatos não estão dispensados de dizerem o que pensam sobre o assunto. Como pretendem preparar a população? Que volume de recursos devem usar nesse processo?
Não se espera que o eleitor vote apenas pela capacidade de preparação das áreas vulneráveis. É provável que isto nem seja importante na contagem dos votos finais.
Salvar algumas vidas, no entanto, é um nobre objetivo, bem próximo das definições antigas da política, como a promoção do bem comum.
Reconheço que nos dias atuais a política não se parece mais com as definições de outrora. Com ou sem sentença judicial, com ou sem pressão dos interessados, ela precisa se reaproximar de sua proposta original.
O conforto e a segurança numa grande cidade são objeto de uma luta democrática. A tendência é administrar os riscos, de forma que se concentrem nas áreas mais pobres.
Candidatos bem intencionados devem trabalhar contra a tendência, melhorando a segurança contra desastres naturais nas áreas mais desprotegidas.
E com um pouco mais de energia, melhorar também a segurança contra o banditismo. Hoje, ela se concentra ainda nas áreas que importam para a opinião pública e os grandes eventos
FONTE: JORNAL METRO-RIO
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