“A ação política tem efeitos muito peculiares no seu próprio modo de ser. Depois de eu ter pintado uma parede de uma cor, que mais tarde se mostra inadequada, nada me impede de repintá-la, pois a parede continua lá. Isso não acontece quando preparo um alimento que, passando de seu ponto de cozimento, não pode mais ser comido. A ação política é uma espécie de cozimento do coletivo, que, passando do ponto, destrói a unidade social. A corrupção política assumida não apodrece o Estado?
Há intelectuais que fazem política como se pintassem paredes. Constatam que a ação política vem sempre acompanhada de corrupção e, deixando de lado as peculiaridades de cada uma de suas formas, simplesmente aderem a esta ou àquela posição política, sem levar em conta a dinâmica da corrupção nela inscrita. Atuam como se fossem cozinheiros que pouco se importam quando servem alimentos ultracozidos.”
José Arthur Giannotti, filósofo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP); é pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). ‘Corrupção e política’, O Estado de S. Paulo, 8/7/2012
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