segunda-feira, 9 de julho de 2012

Geisel sem Golbery :: Vinicius Mota

Recolhimento e austeridade; nacionalismo, apreço pelo ativismo estatal e tecnocracia. Esses traços aproximam a presidente Dilma Rousseff do general Ernesto Geisel, o penúltimo dirigente do Brasil (1974-1979) na ditadura.

Geisel assumiu numa quadra crítica para o regime. Esgotavam-se os efeitos positivos do boom econômico que ajudava a sustentar a ditadura, cujo partido, a Arena, prevalecera largamente nas eleições para o Congresso de 1966 e 1970.

A insatisfação popular com a corrosão da renda, efeito da alta inflacionária, levaria a oposição, o MDB, ao seu primeiro feito eleitoral em 1974. O que começava a ruir não era apenas um arranjo episódico na economia política brasileira.

Entrava em xeque a arquitetura financeira do pós-guerra, indutora de 30 anos de frenético crescimento em países como Brasil e Japão. A resposta de Geisel a essa ameaça produziu efeitos duradouros e contraditórios.

Buscava livrar o Brasil da dependência energética que, com a escalada no preço do petróleo, atiçava a dívida externa. Além disso, o país precisaria obter divisas por suas próprias forças, catapultando a produção de alimentos e minério.

O plano não salvou o regime dos generais nem evitou mais de 20 anos de estagnação -ao aumentar a dívida para custear os investimentos, contribuiu para esses desfechos. Seus principais resultados positivos só eclodiram no século 21, para a glória do governo do líder das greves que haviam ajudado a enterrar a ditadura.

Dilma não tem seu Golbery -o estrategista da política que deu sobrevida à ditadura cambaleante. Mas encara, como Geisel, o desafio de conduzir o Brasil numa transição tectônica da economia global.

Já de seu Reis Velloso -artífice do plano desenvolvimentista de Geisel-, Dilma não pode ressentir-se. Luciano Coutinho, note-se pela entrevista de ontem nesta Folha, é bem mais que um mero presidente do BNDES.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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