segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pacto de louvação mútua:: Wilson Figueiredo

Não é preciso mais nada, pois tudo se tornou supérfluo desde que Luiz Inácio Lula da Silva e Paulo Maluf assinaram um pacto de louvação mútua para aliviar a pressão política, já alta em ano de eleição municipal e com disposição de subir ainda mais, à medida que o mês de Agosto se aproximar e, com ele, o acerto de contas dos mensaleiros com o mensalão.

O anúncio oficial da data não dispensou a troca de elogios recíprocos com que se enfeitaram de adjetivos esses dois pilares republicanos, Lula e Maluf, depois da batalha de confete na variante de democracia resignada a oposições que já não dão conta das necessidades acumuladas.

A opção entre um julgamento técnico e outro, de natureza política, é das menos dignas de consideração nesta fase preliminar da questão, pois as versões lapidadas ao longo de dois mandatos e meio _ como não poderia deixar de ser – é política, pela própria natureza do assunto. Toda opção implica critério político, independente de qualquer outra razão. Escolher é ato de responsabilidade e tem implicações fatais. Portanto, políticas.

Não é o governo que estará em causa em Agosto, nem apenas o PT, mas o exercício da responsabilidade política num sistema em que a democracia se equilibra, de maneira precária, sobre três dezenas de partidos, entre os quais as diferenças são imperceptíveis, mais leves do que plumas ao vento. E nivelados por interesses e subterfúgios morais.

Na crise de que Lula se poupava, quem passava recados em nome dele era o mesmo Gilberto Carvalho, sempre que não convinha serem ouvidos do próprio presidente. Por ocasião das recentes comemorações dos 30 anos do PT, o também chefe de gabinete de Dilma Rousseff não deixou por menos e se adiantou: o petismo veio ao Brasil “para questionar as instituições tradicionais”, mas, ao fim e ao cabo, não resistiu às tentações: “Até o vício da corrupção, que infelizmente entrou no nosso partido”. Ficou parecido demais com os outros partidos. Logo, tem que repartir o bolo. A generalização é mais comprometedora do que se fosse pecado apenas venial. Quem faz a ligação entre os governos Lula e Dilma ainda é o mesmo Gilberto Carvalho, na função de ponte pencil calculada para agüentar o peso da responsabilidade de compatibilizar as palavras e a realidade.

Tudo começou quando se acotovelaram no poder, onde cabe normalmente meia dúzia de partidos políticos, trinta legendas ávidas de vantagens a preços de ocasião, para perpetuar a sobrevivência da ociosidade parlamentar bem remunerada, por dentro e por fora. Sob tais condições, o sistema presidencialista não vai mais longe do que a manutenção precária da continuidade de mandatos representativos e, como retribuição, facilita a reeleição automática do rebanho. E desfigura o sistema democrático cujo pressuposto é a renovação periódica pelo voto (e, por extensão, da própria legitimidade representativa). Não é por acaso que a reeleição presidencial, e nos demais níveis de poderes executivos, veio reforçar a maneira incorreta de proceder – era só o que faltava - em nome da democracia, mas ao custo da sua degradação.

Agosto podia dispensar a cena do dueto com que Lula e Maluf trocaram de males temperados pela ironia com que o segundo irrigou o ego do primeiro com elogios que ele engoliu como remédio amargo. Em boa hora, o pacto Lula-Maluf veio aliviar a tensão gerada pela expectativa de Agosto em relação ao julgamento do mensalão. Está sendo montado o festival de contradições relativas ao primeiro governo Lula. Que, daqui por diante, tratará de esquivar-se pessoalmente ao primeiro nível de destaque político e da tagarelice com que desce a ladeira.

Enquanto Agosto não ficar para trás, será conveniente relativizar todos os pressentimentos e inconveniências com peso específico na História do Brasil.

FONTE:: JORNAL DO BRASIL

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