José Serra terá de encarar um adversário extra na eleição deste ano: a sina de perder quando se lança candidato de uma herança que não ousa dizer seu nome.
Em 2002, o tucano foi o homem da "continuidade sem continuísmo". O tortuoso conceito não deu conta de protegê-lo da insatisfação majoritária com a reta final de FHC. O eleitor preferiu a ruptura "de verdade".
Oito anos depois, houve novo descompasso, só que de sinal invertido. O país estava otimista, contente, e Serra era o nome da mudança. Ele tentou se mostrar disposto a seguir a trilha de Lula. Este, porém, não deixou dúvida sobre quem desejava ver instalada em sua cadeira.
Nas duas vezes em que Serra venceu, sua candidatura estava alinhada com o sentimento dominante.
Em 2004, ele apareceu à vontade para vestir o figurino oposicionista em São Paulo. Sapateou livremente sobre a equivocada campanha petista e a rejeição a Marta Suplicy.
Dois anos depois, não precisou de segundo turno para chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Sucedeu o correligionário Geraldo Alckmin, então lastreado por taxas de aprovação ainda maiores do que as atuais.
Em 2012, porém, Serra se verá de novo obrigado a defender um passivo. No caso, a gestão de Gilberto Kassab. A ascensão do fundador do PSD no quadro partidário nacional é inversamente proporcional à opinião da maioria dos paulistanos sobre seu desempenho como prefeito.
Será difícil o tucano se desvencilhar de sua criatura. Kassab desponta como principal operador da campanha. Implodiu o sonho da chapa pura do PSDB, emplacando o vice.
Propaganda intensiva pode melhorar a imagem do prefeito e legitimar o viés continuísta da empreitada de Serra, além disso escorado pela liderança isolada nas pesquisas. Mas o ambiente parece inclinado ao "novo", na definição (e torcida) das hostes rivais. O PT antes não tinha chances em São Paulo; agora tem.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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