Ontem foi dia de decisões, no Brasil e nos Estados Unidos, para manter e criar empregos. Aqui, o governo anunciou nova série da medida que reduz o peso dos impostos sobre a folha salarial. Lá, o banco central anunciou a terceira rodada de expansão monetária para tentar reativar a economia. Nos dois países, a economia cresce pouco, mas lá o desemprego é alto.
A desoneração da folha de 25 setores se soma à mesma medida tomada em relação a outros 15 setores. Em vez de o empregador recolher um percentual sobre o total dos salários pagos aos empregados, ele paga à Previdência um percentual do faturamento. Nos setores onde já foi adotada, os resultados são bons, na opinião do professor José Pastore:
- Em calçados e vestuário, por exemplo, houve aumento de emprego, redução do custo, diminuição do preço e algumas empresas voltaram a exportar. Claro que há a ajuda do câmbio mais alto, juros mais baixos, mas esta decisão foi determinante. Passei a vida inteira defendendo a desoneração e ela tem de fato dado fôlego novo a setores intensivos em mão de obra. Mas o impacto é maior quanto menor for o grau de terceirização do setor.
Nos EUA, o que aconteceu vinha sendo aguardado há muito tempo pelo mercado: a terceira rodada do que eles chamam de quantitative easing - usam a sigla QE -, que na prática nada mais é do que o banco central jogar mais dinheiro na economia, na expectativa de que isso aumente a oferta de crédito, a demanda, e a atividade. O Fed se comprometeu a comprar, de forma ilimitada, US$ 40 bilhões por mês de títulos lastreados em ativos imobiliários. Também disse que os juros permanecerão zerados até 2015. Que efeito pode ter esse QE3? O economista José Júlio Senna, da MCM Consultores, diz que ele enfraquece o dólar e que o impulso no crescimento será mais intenso que o primeiro QE, porém mais fraco que o segundo:
- O primeiro veio no final de 2008, logo depois da quebra do Lehman Brothers. O PIB mundial desabou nos meses seguintes e o efeito do QE foi pequeno, mas porque não havia muito a fazer. O segundo QE veio em 2010 quando havia otimismo com a economia mundial. O Brasil cresceu 7,5% aquele ano, a China estava forte, havia mais esperança na solução do problema grego. Nesse contexto, a decisão provocou euforia e alta de commodities. Agora não há queda brusca nem euforia. O mundo vive uma fase crônica da crise, de longa desaceleração. Nesse ambiente, o efeito será menor do que no anterior.
O temor no Brasil é que a indústria não aguentasse mais manter os empregos. Ela tem demitido, mas menos do que era de se esperar diante do encolhimento que enfrenta. Agora, os setores beneficiados terão ânimo para manter as vagas.
Nos EUA, o desemprego está parado em 8%, mas a verdade pode ser pior. Muita gente está saindo da estatística porque parou de procurar emprego. O Fed avisou que manterá a medida o tempo suficiente para reativar o mercado de trabalho.
- As medidas ajudam a reduzir o custo dos financiamentos imobiliários, mas o pano de fundo é o desemprego alto - disse Senna.
A desoneração no Brasil terá também o efeito de segurar a inflação.
- O setor de pães e massas enfrenta a alta do trigo. O de aves, o de milho - lembrou Pastore.
Com custos menores, as empresas poderão enfrentar a competição estrangeira. Pastore contou que visitou uma indústria de cerâmica que há um ano tinha 200 empregados e agora tem 40, porque está importando uma parte de cerâmica da China.
Com armas diferentes, no mundo se luta por emprego.
FONTE: O GLOBO
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