Joaquim Barbosa poderá
decidir sozinho ou submeter a questão ao plenário do STF
Advogado do ex-ministro
José Dirceu critica Gurgel: "Esse requerimento é desnecessário e
inadequado, pois meu cliente já disse que qualquer decisão será
respeitada"
A petição do
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi entregue quarta-feira no
gabinete do relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa. Gurgel quer a retenção
dos passaportes de todos os 25 réus condenados. O objetivo é impedir
cautelarmente que os réus deixem o país. Barbosa poderá decidir sozinho a
questão aos demais ministros. O pedido dividiu os advogados dos réus. Enquanto
os de José Dirceu e Henrique Pizzolato reclamaram, os de Marcos Valério e
Roberto Jefferson afirmaram não fazer objeção, garantindo que seus clientes não
têm a intenção de deixar o país.
Procurador
pede retenção dos passaportes dos 25 condenados
Advogado de Dirceu apela à luta contra a ditadura para tentar reduzir pena
Mensalão. Gurgel entregou petição ao relator Joaquim Barbosa, que pode
decidir sem consultar os outros ministros
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu na última
quarta-feira a retenção dos passaportes dos 25 réus condenados no mensalão,
informou ontem o "Jornal Nacional". A petição foi entregue no
gabinete do ministro relator do processo, Joaquim Barbosa. Gurgel já havia manifestado
a colegas a intenção de apreender os passaportes dos réus, embora publicamente
negasse a intenção de fazê-lo.
A retenção do passaporte é considerada "menos grave" do que a
prisão, segundo alguns procuradores da República, e busca impedir cautelarmente
que os réus deixem o país. Barbosa pode decidir sozinho pela retenção dos
passaportes ou submeter a questão ao plenário. A assessoria da
Procuradoria-Geral da República não confirmou a informação. Disse que Gurgel
estava em viagem por interesses particulares ontem e não fora encontrado para
falar sobre o assunto.
Marcelo Leonardo - advogado de Marcos Valério, o operador do mensalão
condenado a mais de 40 anos de reclusão - afirmou que a medida não fará nenhuma
diferença em relação a seu cliente. Segundo ele, Valério entregou o documento à
Justiça no início do processo.
- É uma medida inócua - disse.
O advogado de Roberto Jefferson, Luiz Francisco Corrêa, diz não ter recebido
nenhuma intimação nesse sentido:
- Se a intimação ocorrer, não há nenhuma objeção por parte do meu cliente.
Ele não tem a intenção de deixar o país.
Já Marthius Lobato, advogado do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato, criticou a possível apreensão dos passaportes:
- Ele está querendo na verdade subverter a própria ordem constitucional. Não
há razão para um pedido dessa magnitude. O próprio STF tem precedentes
mostrando que a execução da pena só se dá com trânsito em julgado.
José Luis de Oliveira, defensor do ex-ministro José Dirceu, também criticou
a Procuradoria-Geral da República.
- Esse requerimento é absolutamente desnecessário e se demonstra inadequado,
uma vez que meu cliente já disse que qualquer que seja a decisão ela será
respeitada - disse Oliveira.
Advogado pede que "relevante valor social" de Dirceu seja
considerado
José Dirceu evocou seu passado de luta contra a ditadura para tentar
diminuir a pena que lhe será imposta pelos ministros do Supremo Tribunal
Federal. Em novo memorial encaminhado à Corte, a defesa do ex-chefe da Casa
Civil pede que seja considerada a vida pregressa do réu e que se considere como
atenuante atitudes de "relevante valor social", como prevê o Código
Penal. O memorial cita a participação de Dirceu no movimento estudantil, seu
enfrentamento contra a ditadura, sua prisão e banimento do país, a fundação do
PT e suas eleições.
"Independentemente de qualquer valoração política ou ideológica, é fato
incontestável que José Dirceu atuou por décadas em prol de importantes valores
de nossa sociedade, participando corajosamente do movimento estudantil que
lutava contra o regime militar, atuando com destaque na fundação de relevante
partido político e, ainda, exercendo mandatos parlamentares com grande
comprometimento e reconhecimento".
Dirceu foi condenado pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção
ativa. O advogado José Luis Oliveira Lima diz no documento que, num processo,
julga-se um homem acusado de um ilícito e não um fato isolado, de forma técnica
e fria.
A defesa cita trechos de depoimentos de testemunhas, que constam no
processo. Até uma frase do ex-presidente Lula: "(José Dirceu) lutou pela
democratização do Brasil, pagando com o exílio". São citados outros
depoimentos, quase todos de petistas. Oliveira cita um dos artigos do Código
Penal para pedir que seja considerado o que Dirceu foi e fez "antes do
cometimento do delito em foco".
Fonte: O Globo
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