Thiago Herdy
SÃO PAULO - O diretor de Redação da revista "Veja", Eurípedes
Alcântara, disse ontem ter provas capazes de demonstrar que as declarações
atribuídas a Marcos Valério em reportagem publicada pela revista são do próprio
Valério. Eurípedes afirmou ter feito um acordo com Valério que previa a
divulgação das provas apenas caso o publicitário desmentisse a reportagem, fato
que, para ele, não ocorreu.
De acordo com a revista, Valério atribui ao ex-presidente Lula papel central
no mensalão. A reportagem, porém, afirmava que ele havia feito as declarações a
amigos. Na verdade, Valério falou com repórteres da revista. O diretor não
especificou se a comprovação está guardada em "áudio, vídeo ou, por
exemplo, a transcrição de um depoimento registrado em cartório".
- Temos as provas necessárias para demonstrar que as afirmações são o que no
STF se chamaria de "verbis" - ou seja, transcrições ao pé da letra do
que ele disse. Marcos Valério decide se as provas serão divulgadas, apenas
porque nossa combinação com ele foi a de que se ele desmentisse a reportagem
estaria quebrando o que foi acordado e, assim, ficaríamos dispensados de
cumprir nossa parte - disse ontem Eurípedes, em entrevista por e-mail.
Em 15 de setembro, data em que a revista foi para as bancas, o advogado
Marcelo Leonardo disse que negava "o teor das declarações atribuídas a
Marcos Valério". Ontem, informado sobre as declarações de Eurípedes, disse
que nada tinha a falar sobre o assunto. Perguntado se a negativa anterior
valia, não comentou.
O diretor de "Veja" não explicou por que as provas não foram
divulgadas quando Leonardo negou pela primeira vez as declarações de Valério. A
primeira entrevista de Eurípedes sobre o tema foi publicada na noite de
quinta-feira pelo portal "Comunique-se".
Oposição quer nova investigação
Na reportagem de "Veja", o publicitário trata Lula como chefe do
esquema montado para arrecadar recursos e financiar petistas e aliados. "O
PT me fez de escudo, me usou como um boy de luxo. Mas eles se ferraram porque
agora vai todo mundo para o ralo", disse o publicitário, de acordo com
"Veja".
Valério afirma que o PT movimentou R$ 350 milhões em caixa paralelo e que o
Banco Rural teria emprestado recursos apenas depois de receber o aval de Lula.
Na reportagem, Valério não apresenta provas para sustentar suas afirmações.
Segundo a revista, ele teria ficado em silêncio sobre o envolvimento do
ex-presidente porque acreditava que ficaria impune ou receberia pena mais
branda. Para Eurípedes, a situação de Valério requer cuidados:
- O fato de um indivíduo estar condenado não dá direito ao jornalista de,
aproveitando-se de fragilidade inerente a sua situação, abusar da sua
confiança. Pessoa nessa situação merece a mesma consideração ética e humana que
ele dispensaria a celebridade ou autoridade no auge da fama ou do poder.
A assessoria do Instituto Lula informou que o ex-presidente não comentaria a
política editorial da revista. Em nota divulgada quando a reportagem foi
publicada, seis partidos aliados do governo a trataram como
"fantasiosa". A oposição planeja requerer nova investigação.
Fonte: O Globo
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