A principal credencial eleitoral pela qual a presidente Dilma foi lançada como
candidata à Presidência da República em 2010 foi a de ser então a "Mãe do
PAC". Ou seja, foi estar comprometida com o investimento.
No entanto, nestes primeiros dois anos de mandato, a presidente Dilma
pareceu mais preocupada em garantir novas vendas de veículos e de geladeiras do
que em assegurar o investimento em infraestrutura e logística. A inacreditável
série de apagões no sistema nacional de energia elétrica - justamente uma área
que se supõe que a antiga ministra de Minas e Energia conhece a fundo, é apenas
uma entre muitas indicações dos enormes problemas de investimento na economia.
A Petrobrás é outro caso. Tem um plano de investimentos de nada menos de US$
236,5 bilhões até 2016 e, no entanto, o governo Dilma insiste em fazer política
de preços com o caixa da empresa, o que não apenas enfraquece dramaticamente
sua capacidade de investimento, mas desidrata um dos segmentos que eram um dos
orgulhos do Brasil: o setor produtor de etanol e açúcar.
Na área de rodovias, não há notícia boa a transmitir. Quinta-feira, o jornal
Valor noticiou que só 48,3% de um total de R$ 13,7 bilhões em verbas destinadas
a investimentos em estradas federais neste ano haviam sido executados. É o pior
desempenho desde 2008. As paralisações têm vários e distintos motivos: atrasos
com liberação de certificados ambientais, paralisações impostas pela Justiça,
desentendimento com empreiteiras e tal.
Na área das hidrovias, dos portos e aeroportos não é preciso insistir
demais. Sabemos o drama que ocorre aí todos os dias. Nas comunicações, foi
preciso que, em julho, a Agência Nacional de Telecomunicações decretasse a
suspensão de vendas de aparelhos celulares para que as operadoras cuidassem
melhor dos programas de expansão.
Até agora o governo Dilma se notabilizou por desconhecer problemas no
sistema elétrico. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, por exemplo,
vinha justificando tudo com desculpas de que qualquer país está sujeito a
ocorrências assim. O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS),
Hermes Chipp, trata os brasileiros como se fossem idiotas, ao insistir que cada
episódio desses não passa de um reles "apaguinho". E, no entanto, o
Brasil já teve 65 cortes de fornecimento de energia somente em 2012.
Ontem, pela primeira vez no governo Dilma, o ministro interino de Minas e
Energia, Márcio Zimmermann (foto), reconheceu a gravidade da crise no
fornecimento de energia. Admitiu que o apagão de ontem "não é normal"
e que "essas coincidências são menos ainda".
As falhas não são de mera ausência de manutenção da rede elétrica. São
também de coisas estranhas que acontecem nos investimentos. O apagão de ontem
foi em rede nova.
No caso, o apagão maior é que tanta responsabilidade importante no País,
como a do fornecimento regular de energia elétrica, foi confiada a prebostes de
chefões políticos regionais. E, também, que as agências reguladoras já não
fazem o que têm de fazer porque seus cargos passaram a atender a prioridades
políticas.
Coincidência ou não, um dos focos do apagão de ontem foi o município de
Imperatriz, no Maranhão, território político comandado pelo mandachuva José
Sarney.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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