Dilma Rousseff chega à metade do mandato com popularidade recorde, base partidária intacta, a vitória eleitoral mais crucial de 2012 e um cardápio de medidas para aquecer a economia.
Nada, porém, permite antever um 2013 tranquilo para o governo e para o PT.
O desfecho do mensalão ainda está distante. Haverá o impacto midiático da prisão dos condenados. E, ainda que o STF dê início à apreciação do braço tucano do escândalo, a maior expectativa é se será ou não instalado um outro inquérito-mãe, amparado em novas revelações de Marcos Valério.
Nesse segundo "round", procuradores e policiais investigariam a suposta participação de Lula no esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio parlamentar. Assessores do ex-presidente, como o faz-tudo Freud Godoy e o tesoureiro Paulo Okamotto, teriam as vidas devassadas.
Existem ainda as pendências da Porto Seguro, operação da PF que causará constrangimentos à medida que vazarem e-mails apreendidos no escritório e na casa da ex-assessora íntima de Lula.
No limite, os dois casos poderão manchar o governo Dilma e resultar na interdição eleitoral de Lula, trauma que o Planalto e o PT parecem não descartar. Gilberto Carvalho, ministro e porta-voz lulista, convocou a militância às ruas porque o "ano será brabo". Lula avisou que sairá em caravana pelo país para defender o "legado".
Outro fator de instabilidade é a economia. Até aqui, o hiperativismo da equipe dilmista não engajou o empresariado. Talvez seja impossível tutelá-lo e ao mesmo tempo convencê-lo a investir.
Esse capitalismo de "lucro tabelado" e os resultados anêmicos do PIB levam a iniciativa privada a buscar alternativa na política. O assediado da vez é o governador Eduardo Campos (PSB-PE).
É prematuro apostar em ruptura, mas não em corrosão. O provável é que um núcleo de siglas médias (PSB, PDT, o PSD kassabista) flutue dentro da coalizão, enquanto avalia a conjuntura e recruta apoio e financiamento para voo próprio.
Dilma, assim, aos poucos se vê empurrada para outro aliado, este sem projeto solo.
No governo, o PMDB já faz o papel de ouvidor dos setores insatisfeitos da economia. Tem no vice-presidente Michel Temer o melhor nome para aproximar os três Poderes, atritados em razão da hipertrofia do Executivo e agora também do Judiciário. E deverá tomar o comando do Congresso, com Renan Calheiros (Senado) e Henrique Alves (Câmara). É nessa legenda versada em driblar e fabricar crises que a presidente terá de confiar.
Resumo: o PT estará forte mas na linha de tiro, a oposição ganhará contorno dentro da base, e o PMDB poderá virar o fio-terra da República.
Fonte: Folha de S. Paulo
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