O “pibinho” de 1% - combinado com outros indicadores frustrantes das atividades produtivas, entre os quais a queda da produção da indústria e dos chamados investimentos gerais (na formação bruta de capital fixo), de apenas 18% ou menos, bem abaixo dos do México, Colômbia, Peru, Chile – converteu a atração de investimentos privados, internos e externos, na prioridade central da presidente Dilma Rousseff tendo em vista uma “virada” do crescimento da economia para um “pibão grandão” no biênio final de seu mandato e caminhada para uma reeleição. Mas os passos que ela passou a dar nesse sentido incluíram decisões relativas às contas públicas de 2012 que, ao invés de ampliarem, reduziram a credibilidade do governo perante o conjunto dos agentes econômicos, fator relevante para a viabilidade de tal atração. Decisões avaliadas, assim, por um analista insuspeito de oposicionismo como Delfim Netto, em seu artigo de anteontem no Valor: “A recente ‘quadrangulação’ para cumprir o superávit primário foi uma deplorável operação de alquimia. A repetição desses ‘truques contábeis’ está construindo uma relação incestuosa entre o Tesouro Nacional, o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Trata-se de uma sucessão de ‘espertezas’ capazes de destruir o esforço de transparência que culminou na magnífica Lei de Responsabilidade Fiscal, duramente combatida pelo PT na sua fase de pré-entendimento da realidade nacional, mas que continua sob permanente ataque”.
Outra variável, de grande peso político e social além do econômico, que emergiu ao primeiro plano das preocupações do Palácio do Planalto neste início de ano, diz respeito à inflação que, como destacou reportagem recente do Estado de S. Paulo, “está mudando de patamar, podendo situar-se acima de 6% em 2013”. Mesmo com a subestimação ‘desenvolvimentista” dessa variável, a presidente já aprendeu – por ela própria e por advertências do antecessor Lula – que correrá grande risco político, administrativo e eleitoral com um cenário, neste ano e em 2014, que combine baixo crescimento e inflação alta. Risco que ela ainda tem tempo e condições de enfrentar ou reduzir significativamente, apoiada no elevado índice de popularidade que mantém e na amplitude da base parlamentar governista com que ainda conta, por meio de uma reorientação real de objetivos do governo. De um lado, com a subordinação das políticas populistas a projetos consistentes de crescimento, e com a troca do ativismo intervencionista por uma relação realista com o mercado. De outro, com o fim do abusivo aparelhamento partidário, sobretudo petista da máquina administrativa federal. Que se soma ao burocratismo e ao ideologismo como fatores importantes da aguda ineficiência gerencial. Se conseguir, de fato, promover a prometida “virada”, com o, improvável, bom uso desses instrumentos, ela terá condições de manter até 2014 o favoritismo que segue ostentando e, com ele, evitar ou reduzir as proporções de uma desagregação da base governista.
A ambiguidade na avaliação dessas condições – com a cobrança de resultados da referida “virada” já na primeira metade deste ano – constitui a base da tática do governador de Pernambuco e dirigente do PSB, Eduardo Campos: seguir agora integrando o governo e sua base de apoio, beneficiando-se do respaldo do Planalto, simultaneamente ao preparo da alternativa de candidatura presidencial no próximo ano. Candidatura dissidente, com forte apoio no Nordeste, que, se concretizada, transformará em provável o que hoje é apenas possível: o 2º turno da disputa presidencial, perspectiva que se reforçará com a presença nesta, além do postulante da oposição, da ambientalista Marina Silva.
Daí, as duas prioridades políticas da presidente Dilma: máximo empenho em segurar Eduardo Campos no polo governista e centrar fogo na pré-candidatura de Aécio Neves. Isto a partir de ações voltadas para evitar que ela ganhe ampla dimensão pluripartidária em Minas, bem como para que sofra fortes resistências em São Paulo. E a fim de impedir que tal dimensão se desdobre nacionalmente gerando e beneficiando-se de uma divisão dos partidos da base governista federal. Quanto a Aécio, o exercício da direção do PSDB, que deverá assumir até maio, será usado, no plano interno, para a busca da unificação do partido (posta em xeque pelos serristas) e, no plano maior, para uma complexa e difícil tarefa: construir uma contraposição competitiva “a 12 anos de mandatos presidenciais do petismo”, em suas próprias palavras, com base em propostas de defesa da federação, de desmonte do aparelhamento partidário de eficiência gerencial, de retomada das reformas modernizadoras das gestões de FHC.
Jarbas de Holanda é jornalista
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