Vejo com certa descrença as projeções de crescimento da economia brasileira para 2013 que apontam taxas que, recorrentemente, se situam entre 3% e 4%. De onde poderia surgir uma força motriz capaz de impulsionar a expansão da nossa economia e aumentá-la, a preços constantes, em quase R$ 200 bilhões acima do nível de atividades prevalecente atualmente?
A expectativa do governo federal é de que a parcela maior desse crescimento venha da expansão dos investimentos públicos e privados. Especificamente, há pouca liberdade nos orçamentos públicos para que possam realizar investimentos em infraestrutura de escala maior. Esses orçamentos vêm sendo engessados desde 1988 por meio de vinculações de receitas ou do comprometimento com políticas sociais compensatórias. O governo mal consegue realizar gastos de investimentos para recomposição do capital infraestrutural que se desgasta ou, até mesmo, para complementar obras do PAC iniciadas ainda na gestão passada. As expectativas se voltam, pois, para os investidores privados que poderiam realizar projetos diretamente ou por meio de parcerias público-privadas. Algo mais fácil de propor do que de implementar.
Estudos recentes têm mostrado o papel importante, para o desempenho dos investimentos do setor privado, das interações entre instabilidade, irreversibilidade e incerteza em contextos como o apresentado para o Brasil em 2013 e 2014. A instabilidade macroeconômica resulta, entre outros fatores, da influência de variáveis financeiras sobre o comportamento das funções de investimento. Se não houver estabilidade nas regras de consistência e de interdependência entre a política cambial, a monetária e a fiscal, reduz-se a capacidade preditiva dos investidores na análise de risco dos fluxos de caixa de seus projetos. A especificação das funções de investimento fica fortemente dependente do ambiente político-institucional que configura as variáveis financeiras.
O investimento tem dupla face: de um lado, é um componente muito importante da demanda agregada, com os seus efeitos multiplicadores; e, do outro lado, determina o crescimento da capacidade produtiva do país. Mas, como o investimento é uma decisão orientada para o futuro, é preciso lembrar que ele tem aspectos de irreversibilidade (diferentemente de uma aplicação financeira) e, portanto, opera num contexto de extrema volatilidade. Numa visão mecanicista da interação do multiplicador e do acelerador, o investimento surge tão somente em função do crescimento previsto da demanda e do esgotamento da capacidade produtiva ociosa.
Na verdade, quando o futuro é incerto, o que importa é a cadência do processo de tomada de decisão sobre o investimento. O ritmo do processo pode ser profundamente afetado pela incerteza sobre a dinâmica dos mercados, levando a postergar o investimento, como tem ocorrido no Brasil, desde 2010, com os grandes projetos de investimento que utilizam direta e indiretamente recursos naturais renováveis e não renováveis. A delonga ou remodulação intertemporal dos investimentos é uma decisão racional do ponto de vista dos empresários privados, pois envolve trade-off entre os retornos de se investir hoje e a possibilidade de poder fazer uma decisão mais informada (menos incerta) no futuro.
Como dizia Keynes no famoso capítulo 12 de sua Teoria Geral: "O estado da expectativa a longo prazo, que serve de base para as nossas decisões, não depende, portanto, exclusivamente do prognóstico mais provável que possamos formular. Depende, também, da confiança com a qual fazemos este prognóstico - à medida que ponderamos a probabilidade de o nosso melhor prognóstico revelar-se inteiramente falso"
Não seremos surpreendidos se, ao longo de 2013, trimestre após trimestre, os prognósticos de crescimento do PIB sejam refeitos, pois não temos confiança sobre as grandes mudanças que anos a política econômica precisa sofrer e, principalmente, sobre a forma como tais mudanças possam ocorrer.
Professor do IBMEC/MG, foi ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Itamar Franco
Fonte: O Estado de S. Paulo
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