Por unanimidade, o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 7,25% ao ano, apesar da alta da inflação. O BC admitiu piora nos riscos de alta de preços a curto prazo, mas diz que a reação da economia está mais lenta que o esperado
Juro baixo, inflação alta
Copom cita riscos de alta de preços a curto prazo, mas mantém taxa Selic em 7,25%
Gabriela Valente, Bruno Villa-Bôas e Roberta Scrivano
CORRENDO ATRÁS DO CRESCIMENTO
BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - Após ser criticado por manter os juros básicos no menor patamar da história, apesar do aumento da inflação, o Banco Central (BC) reafirmou ontem sua estratégia. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 7,25% ao ano. O colegiado admitiu que houve uma piora no balanço de riscos para a alta de preços a curto prazo, que a recuperação da economia está mais lenta que o esperado e que o ambiente internacional é incerto. Dado esse quadro, o Copom garantiu que a estabilidade dos juros por um "período suficientemente prolongado" é a estratégia mais adequada para controlar a inflação. Por outro lado, sumiu da nota do Banco Central a informação de que a inflação convergiria para seu objetivo de forma não linear, o que motivou ataques dos economistas. Para janeiro, os analistas do mercado já preveem que a inflação vá ficar em 0,78%.
Para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, o que o BC quis dizer é que alterar a taxa de juros, agora, não seria garantia de queda da inflação no futuro:
- O BC quis dizer que está atento, mas não há muito o que fazer agora, porque todo o trabalho sujo que seria feito pelos juros para desacelerar a economia já está em curso.
No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas do governo, ficou em 5,84%. Fechou 2012 acima do objetivo central do governo de 4,5%, mas ainda dentro da margem de tolerância de dois pontos percentuais. Como a previsão do próprio BC é de uma inflação de 4,8% e a do mercado é de 5,53%, os críticos batem na tecla de que a instituição abandonou o alvo central da meta.
- É uma política do governo, e não do BC, manter a Selic o mais baixo possível durante o maior tempo possível - disse o economista da MB Associados Sérgio Vale. - Quando a inflação começar a se aproximar de 6,5%, o que deve ocorrer mais para o fim do ano, ai, sim, o BC começará a pensar nisso.
Para o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall, a inflação está muito elevada para o nível baixo de crescimento atual. Os preços sobem porque o mercado de trabalho está aquecido. Ele disse que, se a economia estivesse se expandindo a um ritmo de 3% ao ano, a política de juros seria de alta da taxa básica. Mas, agora, o BC tenta calibrar as decisões para não afetar a atividade econômica:
- É uma tolerância para não sacrificar a economia - disse Kawall.
Após a decisão, a expectativa se volta para o teor da ata do Copom, que será publicada na semana que vem. Os analistas têm dúvidas de como temas como aumento da gasolina e política fiscal serão tratados. Para o economista do Santander Ricardo Denadai, isso será importante, sobretudo, para entender melhor como será a estratégia do BC neste cenário complexo:
- Temos um balanço de recuperação lenta da atividade e inflação alta. E o BC vai insistir nessa política?
Abandono do centro da meta de inflação
Para especialistas, o BC sinalizou, com a manutenção da Selic em 7,25%, que não mira mais o centro da meta de inflação, e que toleraria uma alta dos preços maior para não prejudicar o crescimento da economia. Economistas lembram, no entanto, que os juros baixos não têm surtido o efeito desejado no crescimento da economia, assim como o câmbio depreciado e incentivos fiscais pontuais à indústria.
Eles criticam o que consideram ser uma avaliação equivocada do governo sobre o crescimento: o que falta não é demanda por consumo, mas investimento e produtividade.
Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, a falta de comprometimento em levar a inflação para o centro da meta eleva o risco de o BC "perder a mão", e o IPCA ficar mais perto do teto da meta de inflação no ano que vem:
- O governo acreditava que manter juros baixos e câmbio depreciado bastaria para o crescimento. Hoje não há espaço para cair mais os juros e depreciar o câmbio, justamente por causa da inflação. E não há espaço para mudar a politica econômica. Estamos engessados em 2013.
Quinto juro real mais alto do mundo
Para o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, ao manter os juros, a autoridade monetária abandona o sistema de metas de inflação:
- Não há mais mecanismo para controlar inflação. O que o governo faz agora é apelar para prefeitos para não subir tarifas de ônibus.
Mesmo com a manutenção da taxa Selic em 7,25% ao ano, o Brasil se distanciou um pouco mais do topo do ranking de maiores taxas de juros reais do mundo, passando do terceiro para o quinto lugar. A queda, segundo o economista Jason Vieira, responsável pela elaboração da lista, deveu-se mais a altas nas taxas de juros de outros países.
(Colaboraram Daniel Haidar e João Sorima Neto)
Fonte: O Globo
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