O discurso da presidente Dilma Rousseff, em cadeia nacional de televisão convocada pelo Palácio do Planalto no dia 23 de janeiro, para o anúncio da redução das contas de luz, foi bem além do objetivo declarado, sendo lido pela mídia – em face do agressivo tom oposicionista que o caracterizou – como lançamento, já no início de 2013, da campanha à reeleição. Passo que se desdobraria nos dias seguintes em manifestações nas quais ela assumiu explicitamente a condição de candidata.
Aos problemas da economia pode ser atribuído o primeiro fator da mudança de postura da presidente. Uma reavaliação desses problemas (da complexidade e da extensão que têm), por ela e pelos ministros e assessores de sua confiança pessoal, deve ter concluído que a antecipação da disputa sucessória de 2014, com o uso de retórica eleitoral combinada com a intensificação de medidas assistencialistas, constituiria resposta melhor (que a do “pibão grandão”) ao pessimismo dominante entre os agentes econômicos e na imprensa sobre as perspectivas de uma retomada concreta do crescimento e do controle da pressão inflacionária em 2013, após o “biênio perdido” de 2011/2012. É da própria Dilma uma afirmação feita dias atrás de que, ao invés de reformas ou medidas macroeconômicas, o que importa mais agora são ações microeconômicas voltadas diretamente à população.
O outro fator, também decisivo, para essa mudança de postura deve ter isso a identificação do risco de reforço das tendências do PT que, insatisfeitas com o desempenho “tecnocrático” do governo e sob pressão do desgaste do partido com o julgamento do mensalão, passaram a defender o retorno de Lula (expectativa também existente nos partidos da chamada base aliada). O emprego do recurso da retórica eleitoral, do mesmo modo que enseja um tratamento do pessimismo do mercado como “alarmismo dos que torcem pelo fracasso do governo e do país”, propicia à presidente afirmar-se como protagonista de uma polarização política que afasta, ou afastaria, tal risco. Por meio de um estreitamento das relações do petismo com o Planalto (com mais espaço para o atendimento das demandas de suas várias tendências) e do exercício por Lula do pleno comando da campanha para a reeleição.
E a polarização é desencadeada num cenário que contém dois ingredientes conjunturais favoráveis ao governo. De um lado, a persistência de alto índice de popularidade da presidente. De outro lado, a falta de clara alternativa oposicionista, devida à insistência do grupo serrista do PSDB de dificultar uma composição unitária do partido em torno da candidatura de Aécio Neves.
Às vésperas da eleição no Senado, ampliam-se resistências a Renan
O fato novo da denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sobre fraude fiscal que teria sido praticada por Renan Calheiros (feita na última sexta-feira, com base em investigação da Polícia Federal em 2007) reforçou as reações de integrantes do Senado de diversos partidos contra a volta dele à presidência da Casa no pleito interno marcado para 1º de fevereiro. Reações minoritárias – de pequena dissidência de peemedebistas, expressiva na bancada do PDT (Pedro Taques e Cristovam Buarque) e do único senador do PSOL (Randolfe Rodrigues), mas que anteontem ganharam manifestações favoráveis dos presidenciáveis Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. O primeiro propondo que Renan desista da candidatura, e o segundo aproveitando a repercussão da referida denúncia para questionar o comando nos próximos dois anos das duas casas do Legislativo federal pelo PMDB (acertado no acordo deste com o ex-presidente Lula para a eleição da sucessora). Aécio defendeu uma alternativa que “agregue as forças políticas do Congresso”, e chegou a propor um entendimento em torno do senador Pedro Taques. Tais reações, porém, são tardias e provavelmente não têm peso suficiente para forçarem a Executiva do PMDB e a maioria da bancada de senadores do partido à substituição da candidatura de Renan.
Jarbas de Holanda é jornalista
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