Mercado reage mal, e ação cai 5% com perda de valor de R$ 12 bi. Alta nos postos chega a 10%
Ramona Ordoñez, Marcello Corrêa e Bruno Villas Bôas
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA - O reajuste nos preços da gasolina e do diesel, anunciado ontem pela Petrobras, já chegou às bombas, mas não trouxe alívio às ações da empresa, que caíram até mais de 5% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). De 24 postos de Centro, Barra, Zona Norte e Zona Sul do Rio percorridos pelo GLOBO ontem, dez já reajustaram seus preços entre 2,81% e 10,7%. Em quatro postos, a alta superou os 4% previstos por analistas e pelo próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, ontem. Mesmo nos postos onde não houve ajuste, a expectativa era que o repasse para o consumidor ocorreria em até cinco dias.
Ontem, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras caíram 5,12% e as preferenciais (PN, sem voto), 4,76%. Analistas previam uma alta maior no preço dos combustíveis. O reajuste de 6,6% na gasolina e de 5,4% no diesel, nas refinarias, vai reforçar o caixa da Petrobras em R$ 540 milhões por mês, preveem especialistas, porém será insuficiente para cobrir a defasagem entre os preços no mercado interno e os praticados no exterior.
Para o Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), antes do reajuste a empresa perdia R$ 1,7 bilhão por mês com a defasagem. Agora, o prejuízo será de R$ 1 bilhão. O CBIE estima que, mesmo após o reajuste, a defasagem da gasolina está em 11,2% e a do diesel, em 19,7%.
- O reajuste era muito necessário, mas não veio quanto o mercado esperava, que era entre 7% e 10% - disse Emerson Leite, chefe da área de análise de ações do banco Credit Suisse First Boston, que vê a defasagem da gasolina agora em 13%, e a do diesel, em 24%.
Mercado esperava reajuste maior
Adriano Pires, diretor do CBIE, diz que, de janeiro a novembro de 2012, a Petrobras viu sua receita encolher R$ 18,6 bilhões com a defasagem de preços.
A queda das ações da Petrobras fez a empresa perder, só ontem, R$ 12,5 bilhões em valor de mercado. E influenciou o Ibovespa, principal índice da Bolsa, que fechou em baixa de 1,77%, aos 59.336 pontos.
- Além de o reajuste ter vindo abaixo do que esperava o mercado, a expectativa é que não ocorram novos aumentos este ano. Por isso, o mercado reagiu negativamente - diz Luís Gustavo Pereira, estrategista da Futura corretora.
Segundo o Citibank, o reajuste dos combustíveis vai elevar em R$ 4,3 bilhões o lucro da Petrobras em 2013. Em relatório, os analistas Pedro Medeiros e Fernando Valle salientaram que o aumento de preços não alivia suficientemente a situação da companhia. A relação entre a dívida e o patrimônio líquido da Petrobras deve subir para 33,2% ao fim do ano, próximo ao limite de 35%, acima do qual a empresa perderia seu grau de investimento ( investment grade ).
Frete deve subir 1,53%
Na próxima segunda-feira, a Petrobras vai divulgar os resultados do quarto trimestre de 2012. Os números ainda não terão a influência do reajuste de ontem. Para o Citi, o resultado deve ser de R$ 4,7 bilhões, queda de 15% em relação ao trimestre anterior (R$ 5,5 bilhões).
Para o consumidor, o reajuste da gasolina vai pesar no bolso. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Município do Rio (Sindicomb), Manuel Fonseca, estima correção entre 4,5% a 5% nos postos:
- O aumento nas bombas será dessa ordem porque, na realidade, as distribuidoras já vinham aumentando seus preços. Os postos só vão repassar.
O corretor de imóveis Sebastião Almeida gasta cerca de R$ 1 mil por mês em combustível. Ontem, ele já pagou mais caro para reabastecer em um posto Ipiranga da Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa, onde a alta foi de 3,45%:
- É uma surpresa desagradável. Foge à nossa previsão de orçamento.
Economistas alertam que a alta da gasolina e do diesel afeta os custos do transporte e será repassada a outros preços. No caso das transportadoras de carga, o reajuste no diesel significará acréscimo de 1,53% no preço dos fretes de longa distância.
- São mais afetados os produtos mais leves, como hortifrutigranjeiros - diz Heron do Carmo, professor de economia da USP.
O empenho do governo em postergar reajustes de preços administrados, pedindo a prefeitos e governadores que adiem para o segundo trimestre a correção das tarifas dos transportes urbanos, pode aliviar as pressões sobre a inflação momentaneamente, observam os especialistas. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reafirmou ontem que as tarifas na capital paulista serão reajustas somente em junho. A prefeitura aumentará o subsídio que dá ao setor.
- Vamos oferecer o subsídio necessário para que o reajuste só aconteça em junho - disse Haddad.
Fonte: O Globo
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