Pelo menos no discurso, o governo se mantém neutro em relação à disputa na Câmara e no Senado. Ministra demonstra desconforto ao comentar a sucessão no parlamento
Juliana Braga
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, demonstrou ontem desconforto em assumir o apoio do Palácio do Planalto à candidatura dos peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Henrique Eduardo Alves (RN) às presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente. Questionada se as denúncias publicadas recentemente causavam constrangimento ao governo por apoiá-los, Ideli respondeu que a deliberação sobre as presidências é “autônoma e soberana”, exclusiva do Congresso, e que o Planalto apenas acompanha as eleições. O pleito será realizado em 1º de fevereiro, no Senado, e no dia 4, na Câmara.
“Estamos apenas acompanhando e respeitaremos, como sempre, a deliberação soberana dos deputados e dos senadores”, disse a ministra, para logo em seguida negar que haja apoio do Planalto. A ministra também reforçou que não há preferência por algum dos candidatos nas duas Casas. “O Planalto não tem preferência. A nossa preferência é que eles escolham e que a gente possa continuar tendo essa relação produtiva e benéfica para o país que tivemos ao longo destes dois anos”, desconversou. Por fim, quando questionada sobre como o governo via o retorno de Renan Calheiros à presidência do Senado, Ideli quis encerrar a entrevista. “Querida, vamos encerrar, né? Isso aí você pergunta para ele.”
Alternância
Apesar da negativa da ministra, Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros têm o apoio do Palácio do Planalto. É mais interessante para o governo cumprir o acordo estabelecido com a legenda — no caso da Câmara, ficou acertado entre PT e PMDB que haveria uma alternância — do que criar um desentendimento com a sigla do vice-presidente da República, Michel Temer. Por enquanto, o Planalto avalia que as denúncias que vieram à tona não são suficientes para retirar apoio às candidaturas. O governo esperava uma “artilharia mais pesada”, segundo interlocutores do palácio. Para evitar os ataques, Renan Calheiros ainda não assumiu publicamente sua candidatura, o que deve ocorrer até amanhã.
Ainda assim, não convém admitir publicamente o aval aos candidatos peemedebistas. Além das denúncias, recentes e antigas, o governo não quer se indispor com outros partidos da base aliada. Na avaliação de interlocutores, uma coisa é apoiar, outra é assumir publicamente o apoio.
Embora oficialmente o governo não declare apoio, o vice-presidente Michel Temer saiu em defesa do colega de PMDB. Temer disse que o fato de Renan ter renunciado à presidência do Senado em 2007 para evitar a cassação do mandato não teria interferência caso o político alagoano volte ao cargo. “Vai depender muito da gestão que ele quiser fazer. Se ele fizer uma gestão correta, adequada, em vez de prejudicá-lo, vai enaltecê-lo. Mas é o futuro que vai dizer”, declarou. “É um nome que tem tradição e acho que pode fazer uma belíssima gestão, e é isso que nós esperamos”, completou.
“O Planalto não tem preferência. A nossa preferência é que eles escolham e que a gente possa continuar tendo essa relação produtiva e benéfica para o país que tivemos ao longo destes dois anos” - Ideli Salvatti, ministra de Relações Institucionais
Fonte: Correio Braziliense
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