A começar pela diretora-geral do FMI, Christine Lagarde - que dedicou seu discurso a "duas moças", Malala Yousafzai, a jovem estudante paquistanesa que quase morreu atacada por talibãs, e "sua irmã indiana" de 23 anos que morreu depois de ter sido atacada em dezembro por uma gangue de estupradores na Índia -, nunca se viram em Davos sessões tão drasticamente voltadas a questões como desigualdade, responsabilidade e valores morais como objetivos de medidas econômicas muitas vezes impopulares, mas que têm a finalidade de melhorar as condições sociais dos países.
O primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, chegou a dizer que essas medidas impopulares podem ter apoio se bem explicadas. Para ele, os grupos alijados pelo modelo atual podem entender que ao final serão beneficiados por medidas que, à primeira vista, são prejudiciais.
Christine Lagarde, por exemplo, disse que é preciso fazer mais para combater a desigualdade e usou os casos das "duas moças" como exemplos do que pode acontecer em ambientes socialmente degradados pela desigualdade. Mesmo o desemprego, um dos mais graves problemas pós-crise econômica, especialmente na Europa, foi abordado por ângulos específicos, o da mulher e o dos jovens desempregados.
Com relação às mulheres, Lagarde disse que, onde as mulheres vão bem, a economia vai bem. E citou um dos poucos números de sua fala: o PIB do mundo ganharia cerca de 5 pontos percentuais se as mulheres ganhassem o mesmo que os homens. Ela falou das dívidas dos países como "um fardo" para as próximas gerações. Quando se referiu ao novo mundo que está sendo forjado nos últimos anos, Lagarde se referiu aos valores caros às novas gerações como "abertura, inclusão e responsabilidade", lembrando que as mídias sociais são uma consequência desse mundo de valores renovados, uma popularidade que faz com que a base de usuários do Facebook seja o equivalente ao terceiro maior país do mundo, e o Twitter, o quarto.
Em relação a responsabilidade, a diretora-geral do FMI se referiu diretamente ao mundo financeiro, lembrando que a crise atual foi gerada por um ambiente em que as consequências de certas medidas não eram bem avaliadas. Christine Lagarde insistiu em que o mundo só sairá dessa crise para um futuro melhor se seus líderes abraçarem os valores e princípios que levem à abertura e à colaboração entre as nações neste novo momento da História.
Utilizando uma linguagem direta, Christine Lagarde disse, por exemplo, que, se o mundo não enfrentar a questão do aquecimento global, "as gerações futuras serão assadas, tostadas, fritas e grelhadas". O primeiro-ministro Mario Monti também teve seus momentos de humor ao contar que perguntou a um dirigente do Qatar por que seu país não investia na Itália. "Corrupção" foi a resposta na bucha, o que, Monti admitiu, o espantou: " Afinal, não era o rei da Noruega que estava falando."
Monti disse que, no último ano, a Itália aprovou várias reformas, inclusive uma lei contra a corrupção, que permitirão que a economia do país avance para melhores práticas. Mas ressaltou que um ambiente de "equidade e justiça" é fundamental para a criação de um clima favorável ao crescimento econômico permanente.
O clima nesta reunião do Fórum Econômico Mundial é bastante diferente do de um ano atrás, quando havia no ar a possibilidade de a crise econômica afetar a União Europeia, até mesmo com a saída de alguns países. Ontem, nem mesmo o anúncio do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, de que fará um referendo nos próximos anos para saber a opinião da população sobre a permanência na União Europeia chegou a abalar o otimismo generalizado. Mario Monti comentou a decisão de maneira bem-humorada, dizendo que esperava que, nos próximos anos, Cameron se convença de que ficar na União Europeia é um bom negócio para os ingleses.
Fonte: O Globo
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