Importação, preço defasado e queda na produção fazem ganho cair 36% em 2012.
Analistas criticam interferência do governo, que segurou preços dos combustíveis para evitar a alta da inflação. Após perda de US$ 32 bi de valor de mercado, estatal cai para o 8º lugar no ranking global das petroleiras.
Com os seus preços defasados e o aumento das importações de combustíveis, a Petrobras registrou lucro de R$ 21,18 bilhões em 2012, uma queda de 36% na comparação com os R$ 33,3 bilhões do ano anterior. Influenciado também pelo recuo de 2% na produção, o ganho da estatal foi o menor em oito anos. O resultado foi afetado ainda pela valorização do dólar, que aumentou os custos da companhia. Segundo dados da consultoria Economatica, a intensidade da queda do lucro no ano passado é a maior desde a verificada em 1995 (48,7%), ano seguinte ao lançamento do Plano Real. Para analistas, a interferência do governo nos preços da gasolina e do diesel para segurar a inflação prejudicou a empresa. No quarto trimestre do ano, o lucro subiu 39%, para R$ 7,7 bilhões, acima do esperado.
O tombo da gigante
Lucro da Petrobras em 2012 recua 36%, para R$ 21,18 bi, o pior resultado em oito anos
Ramona Ordoñez, Bruno Villas Bôas
Defasagem nos preços da gasolina e do diesel, aumento das importações de combustíveis, alta do dólar, queda de 2% na produção e poços secos. Estas são as causas que explicam o menor resultado registrado pela Petrobras nos últimos oito anos. A estatal obteve um lucro líquido no ano passado de R$ 21,18 bilhões, uma queda de 36% em comparação aos R$ 33,3 bilhões do ano anterior. Foi menor lucro da estatal desde 2004, quando registrou ganho de R$ 17,8 bilhões. Considerando os valores nominais, ou seja, com a inflação do período embutida nos números, a queda percentual é a maior desde a registrada em 1995 (48,7%), ano seguinte à implementação do Plano Real, que estabilizou a moeda. Os números são da base de dados da consultoria Economatica.
No quarto trimestre do ano passado, o resultado de R$ 7,7 bilhões foi 39% maior do que os R$ 5,5 bilhões do trimestre anterior. Os reajustes de 7,83% dado à gasolina e de 3,94% para o diesel em junho, seguidos de mais 6% para o diesel no mês seguinte, contribuíram para a melhoria do resultado da companhia no último trimestre do ano.
No comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirma que o resultado se deveu principalmente ao aumento das importações de derivados a preços mais elevados em relação aos de venda no mercado interno e à desvalorização cambial, que impactou tanto os resultados da companhia como seus custos operacionais. Graça Foster explica ainda que o resultado também foi influenciado por despesas extraordinárias, como a baixa de poços secos, além da queda de 2% na produção de petróleo em 2%, que ficou em 1,98 milhão de barris por dia.
O resultado do quarto trimestre veio um pouco acima do esperado pelo mercado. Segundo Leonardo Alves, analista da corretora Safra, a Petrobras surpreendeu graças à venda de títulos públicos e à economia com impostos, que contribuíram com R$ 2,78 bilhões para o lucro líquido nos três últimos meses do ano.
- São resultados que não se repetem. É um dinheiro que entrou no caixa da companhia no trimestre passado, mas que não entra mais no futuro - afirma Alves. - Descontado isso, os números de produção vieram dentro do que era esperado pelo mercado.
Alves diz que o dado negativo ficou por conta da relação entre o endividamento e o lucro antes dos impostos (Ebitda) da companhia, que chegou a 2,77 vezes. Segundo ele, um número acima de 2,5 vezes coloca em risco o grau de investimento da Petrobras, o que significa que pode ficar mais caro para a empresa tomar dinheiro emprestado no mercado:
- Mas não quer dizer que a nota de classificação de risco da Petrobras será imediatamente cortada. Só que é algo que se precisa acompanhar.
No ano passado, a Petrobras importou 433 mil barris diários de combustíveis, principalmente gasolina e diesel, volume 12% maior do que os 387 mil barris diários no ano anterior. Isso porque o consumo de combustíveis no país cresceu 8%. A demanda por gasolina aumentou 17%. Ao todo, incluindo petróleo, as importações totalizaram 779 mil barris diários, 4% a mais em relação aos 749 mil barris diários do ano anterior. A área de Abastecimento teve um prejuízo em 2012 de R$ 34,5 bilhões, por causa da defasagem dos preços dos combustíveis, representando um aumento de 136% em relação ao prejuízo de R$ 14,5 bilhões no ano anterior.
Já as exportações de petróleo e derivados caíram 13%, totalizando 548 mil barris diários, contra 631 mil barris diários no ano anterior.
No ano passado, a Petrobras investiu R$ 84,1 bilhões, um aumento de 16% em relação aos R$ 72,5 bilhões do ano anterior. Para este ano a companhia prevê investimentos de R$ 97,7 bilhões.
Segundo Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, o resultado reflete em parte as intervenções do governo na companhia. Segundo ele, somente num cenário de desaceleração da inflação a Petrobras vai conseguir um novo reajuste no preço dos combustíveis.
- O governo não tem deixado a Petrobras atuar como uma empresa voltada ao lucro. Está difícil para a empresa equilibrar assim a necessidade de fazer investimentos gigantes - afirma.
Ontem, as ações da Petrobras fecharam em queda na Bovespa. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) chegaram a recuar 3,09%, antes de fechar em baixa de 2,49%, cotadas a R$ 18. As ações ordinárias (ON, com voto) caíram 2,79%, a R$ 18,10. O Ibovespa fechou em queda de 1,29%.
Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora, diz que, além das expectativa sobre o resultado, a Petrobras foi afetada ontem na Bolsa pela queda de 4,9% da produção de petróleo em dezembro, como informou a ANP.
- No longo prazo, a defasagem dos combustíveis segue pesando.
Fonte: O Globo
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