Acendendo um fósforo
acendo Prometeu, o futuro, a liquidação dos falsos deuses,
o trabalho do homem.
O fósforo: tão rabbioso quanto secreto.
Furioso, delicado.
Encolhe-se no seu casulo marrom;
mas quando chamado e provocado, polêmico estoura, esclarecendo tudo.
O século é polêmico.
O gás não funciona hoje.
Temos greve dos gasistas.
A Itália tornou-se a Grevelândia.
Mas preferimos essa semi-anarquia à "ordem" fascista.
O fósforo, hoje em férias, espera paciente no seu casulo
o dia de amanhã desprovido de greves. O dia racional, o
dia do entendimento universal, o dia do mundo sem classes,
o dia de Prometeu totalizado.
O fósforo é o portador mais antigo da tradição viva. Eu
sou pela tradição viva, capaz de acompanhar a correnteza
da modernidade. Que riquezas poderosas extraio dela!
Subscrevo a grande palavra de Jaures: "De l'autel des
ancêtres on doit garder non les cendres mais le feu."
In: MENDES, Murilo. Poliedro: Roma, 1965/66. Pref. Eliane Zagury. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1972.
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