Caio Junqueira e Daniela Martins
BRASÍLIA - O candidato do PSB a presidente da Câmara, Júlio Delgado (MG), não conseguiu levar a disputa, como pretendia, ao segundo turno, mas utilizou o tempo que lhe foi disposto na tribuna na apresentação de sua candidatura para marcar a posição política de seu partido e pontuar suas diferenças com o PMDB. Exatamente como planejara o presidente nacional do PSB, governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos.
Delgado procurou destacar essas diferenças a partir da avaliação de que seu principal adversário que acabou vitorioso, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não teria condições de pautar uma agenda positiva ao país, focada na economia e na rediscussão do pacto federativo, por ser alvo de denúncias de irregularidades.
"A política internacional que se avizinha demonstra a dificuldade que temos no exercício da retomada do crescimento. Que temos compromissos, aqui nesta Casa, com uma pauta positiva, com uma pauta que estabeleça marcos regulatórios, que possa estar voltada para a nova área energética, voltada para os interesses dos municípios."
Disse ter uma proposta diferente da de Alves sobre o tratamento a ser dado às emendas parlamentares. Enquanto o pemedebista defendeu o orçamento impositivo, que obriga o governo a liberar recursos das emendas, Delgado apresentou uma proposta mais dócil ao governo. Trata-se do contingenciamento proporcional, pelo qual a restrição para liberar emendas acompanha a restrição orçamentária de outros órgãos do governo.
Foi a deixa também para atacar Alves e o PMDB. "Não tenho, e a maioria dos colegas não tem, um funcionário a executar as emendas para serem realizadas pela própria empresa da qual o seu funcionário é chefe de gabinete. Essa é a exceção, senhores deputados. Nós somos a regra", disse, em referência à denúncia contra Alves de que ele favoreceu um agora ex-funcionário no manejo de suas emendas parlamentares. "Queremos que esses recursos cheguem de forma límpida, tranquila e transparente, para que os nossos prefeitos possam ter uma luz, possam ter um recurso a mais, possam fazer uma obra a mais", completou.
Depois mencionou, sem citar o nome, o vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB. Ele citava a proposta de Alves de mudar o funcionamento da TV Câmara. "Se o deputado Henrique leu o discurso do seu colega candidato a presidente há quatro anos [Temer], também do PMDB. Eu o li. E acho que o deputado Henrique também o leu porque aquilo que ele disse com relação à TV Câmara foi exatamente o que foi dito pelo candidato à época e até hoje está do mesmo jeito."
Também criticou a tentativa do PMDB de fazer de Alves um candidato único na eleição de ontem. "Colocamos e nos apresentamos contra aquela que era chamada de candidatura única. E a candidatura única não é a candidatura que permite o debate. Ela inibe o debate. Ela proíbe que esta Casa possa discutir justamente as propostas aqui, de uma forma ou de outra. "
Fonte: Valor Econômico
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