O magérrimo PIB de 0,9% representa um fracasso maior do que parece. Fracassaram todas as medidas de estímulo, algumas boas, como a queda dos juros, outras que criaram tratamento desigual dentro da economia, com subsídios e vantagens distribuídas a escolhidos. O PIB per capita foi zero. O investimento caiu 4%. Olhando para frente, 2013 será melhor do que 2012. O que se discute é quanto melhor.
Na quinta-feira à noite, passando perto de um grupo de economistas reunidos numa livraria do Rio, perguntei a Silvia Matos, do Ibre/FGV:
- Que número sairá amanhã?
- 0,9% - respondeu.
Ela fez essa afirmação categórica porque estudou os dados que levam ao cálculo do PIB e chegou à conclusão de que esse era o número. Isso mostra que o IBGE fez com independência sua conta, apesar de trazer uma má notícia. Serve de consolo. Nossa vizinha Argentina tem um instituto de pesquisa que, por ordem do governo, tem que torturar os números para que saiam como o governo quer. É um alívio saber que os índices do IBGE são previsíveis e respeitados.
Olhando para 2013, houve nas últimas semanas uma série de previsões otimistas, de que o Brasil poderia crescer até 4%. Essa é a estimativa de Nilson Teixeira, do Credit Suisse, que foi muito criticado pelo ministro Guido Mantega, no ano passado, que afirmou que era piada sua previsão de 1% para 2012. Não foi piada, foi o que aconteceu. Outro otimista é Octávio de Barros, do Bradesco, mas sua estimativa de 3,5% entrou em viés de baixa, ontem. A consultoria inglesa Capital Economics cortou sua projeção de 3,5% para 3%, a mesma do HSBC. A Austin Rating manteve 3,7%. Entre os mais cautelosos, estão a Rosenberg & Associados, que prevê 2,5%, e a Gradual, em torno de 2%.
Sobre 2012, o PIB do quarto trimestre, quando anualizado, dá um crescimento de 2,4%, segundo Rafael Bacciotti, da Tendências. É um número bem menor do que dizia o governo: o país terminaria o ano crescendo 4%. A atividade ficou abaixo do esperado e o carregamento estatístico para este ano será menor, de 0,7%. Teremos que remar muito para chegar a um PIB 4%. Esse carregamento funciona assim: mesmo que o país fique estagnado ao longo do ano, ele terá, na média, um PIB 0,7% maior que a média de 2012.
O que foi pior em 2012 foi a queda de 4% do investimento. Foi a segunda queda anual e se igualou a 2009, que foi ano de crise. A indústria encolheu e também voltou a 2009. A maior retração foi a da agropecuária, e o melhor desempenho foi o dos serviços. A taxa de poupança caiu para 14,8% do PIB, e o investimento desceu a 18,1%.
De boas notícias, pode-se dizer três coisas. Na comparação trimestre contra trimestre, o investimento voltou a crescer, 0,5%, depois de cair quatro vezes seguidas. Os serviços também subiram, na taxa acumulada em 12 meses, depois de oito quedas: de 1,5% para 1,7%. Por fim, o próprio PIB acumulado em 12 meses parou de cair. Estava desacelerando desde 2010, saindo de 7,6% para 0,9%. Manteve a taxa no final do ano, e já é alguma coisa não ter ficado pior.
Há razões para algum otimismo este ano: o Brasil está colhendo uma supersafra e os preços internacionais estão bons em várias culturas porque não houve ainda recuperação dos estoques reduzidos. Também vai ser o primeiro ano completo de juros baixos. Ainda que oscilem, eles o farão em patamar menor do que estavam no início de 2012. Em janeiro, houve vários indicadores fortes que podem ajudar a produção industrial do trimestre ser boa. Isso vai aumentar o otimismo.
Um ano melhor do que o desastre de 2012 é fácil. Difícil é iniciar uma nova etapa de crescimento sustentado, o que o governo só poderá conseguir se deixar de lado a obsessão desta campanha eleitoral extemporânea e realmente governar com os olhos nos fundamentos da economia.
Fonte: O Globo
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