Lindbergh propõe que partido entregue cargos no governo Cabral, elogiado por Dilma
Cássio Bruno
Em mais um capítulo da crise entre PMDB e PT no Rio, provocada pelas eleições de 2014, o senador petista Lindbergh Farias afirmou ontem que vai propor ao partido entregar os cargos da legenda no governo do peemedebista Sérgio Cabral. O PT ocupa as secretarias estaduais de Meio Ambiente e de Assistência Social, com Carlos Minc e Zaqueu Teixeira, respectivamente. Lindbergh está em Japeri, na Baixada Fluminense, desde quinta-feira, na chamada "Caravana da Cidadania" e ficará na cidade até hoje.
Horas depois, porém, na inauguração do Hospital municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, a presidente Dilma Rousseff elogiou a parceria política com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes.
- A partir do momento em que o Sérgio Cabral foi eleito nós conseguimos fazer uma parceria de qualidade. E eu tenho muito orgulho dessa parceria. Aí, depois, você (Sérgio Cabral) trouxe o Eduardo Paes, e a parceria ficou muito melhor porque era o governo federal, o governo estadual e a prefeitura. Muitas vezes as pessoas acham que o problema é de dinheiro. Problema não é só dinheiro. O problema é (não) ter parceiros da qualidade do governador e do prefeito como eu tenho tido aqui no Rio - destacou Dilma.
A presidente aproveitou que ontem o Rio completava 448 anos e disse:
- Queria desejar um feliz aniversário ao prefeito Eduardo Paes, ao governador Sérgio Cabral e ao vice-governador Pezão.
Em Fortaleza, onde participa do encontro do Diretório Nacional, o presidente do PT, Rui Falcão, também enfatizou a aliança "muito forte" no Rio com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. Uma aliança que, segundo ele, avançou com a eleição do vice-prefeito petista Adilson Pires. Sobre a proposta de Lindbergh de entrega dos cargos, disse que não há nenhuma iniciativa da direção do partido nesse sentido.
- Ninguém falou para ele ou para o partido sair (do governo de Cabral) - disse Falcão. - Queremos manter essa aliança, não só pela eleição da Dilma, mas pelo desempenho dessa aliança. Cada partido tem legitimidade para lançar seu candidato, o processo final vai depender da evolução da conjuntura - disse o dirigente petista, para quem também há espaço para duas candidaturas que, lá na frente, "podem virar uma só":
- Num eventual segundo turno contra uma terceira força, um pode apoiar o outro.
Pré-candidato ao governo do Rio, Lindbergh quer o apoio da aliança nacional PT-PMDB. Cabral, no entanto, escolheu o vice-governador Luiz Fernando Pezão para concorrer. Sem acordo, os peemedebistas fluminenses ameaçam não pedir votos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff caso o PT mantenha a candidatura do senador. Em jantar, quarta-feira, no Rio, Cabral pressionou o ex-presidente Lula a convencer Lindbergh a desistir, mas não conseguiu um compromisso.
A proposta de Lindbergh de entregar os cargos será debatida na próxima semana com o PT estadual. O senador, no entanto, descartou propor o mesmo em relação à administração do prefeito Eduardo Paes, também do PMDB. Lindbergh argumentou que o partido é representado pelo vice-prefeito Adilson Pires, eleito na chapa de Paes no ano passado. Na prefeitura, o PT comanda as secretarias municipais de Ação Social, com o próprio Pires, e de Habitação, com Pierre Batista.
- Vamos discutir isso (a entrega dos cargos) dentro do partido e saber como vai evoluir toda essa crise - disse o senador.
Carlos Minc afirmou que está à disposição do PT, apesar de achar a medida fora de hora:
- Essa discussão está precipitada. Mas fui eleito deputado estadual, tenho mandato. Qualquer decisão do PT, eu apoio. Não me apego a cargos.
Já Zaqueu Teixeira não quis polemizar:
- Tenho responsabilidade com a gestão da secretaria. Não vou entrar nessa discussão política.
Em Japeri, Lindbergh visitou um canteiro de obras do Arco Metropolitano, rodovia que vai ligar Itaguaí a Itaboraí, passando por municípios da Baixada Fluminense. A obra, atrasada desde 2010, é uma das principais bandeiras na pré-campanha de Pezão. A previsão é que fique pronta em março do ano que vem, a sete meses das eleições. No local, Lindbergh conversou com os operários.
- É uma obra importante para o desenvolvimento econômico do Rio. Mas é preciso que evitem a ocupação desordenada no entorno - disse o petista.
O senador não se encontrou com Dilma, que estava no Rio ontem. Ele mandou recado para a presidente pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Lindbergh não queria criar constrangimento, já que Cabral e Pezão estariam ao lado de Dilma, como de fato ocorreu. O senador declarou ainda não haver chances de Lula pedir a ele para retirar a sua candidatura.
- Sabe qual é a chance de o Lula pedir para eu tirar a minha candidatura? É zero! - afirmou.
A "Caravana da Cidadania" teve ajuda do próprio Lula, de acordo com Lindbergh.
Fonte: O Globo
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