Copa Hotel, no GNT, traça uma crônica de efeito moral e imobiliário de um Rio deslumbrado com Copa e Olimpíada
As chamadas de Copa Hotel, série que estreia hoje, às 22I130, no canal GMT, prenunciam um certo estereótipo de Copacabana, cenário que conjuga decadência, elegância e sexo. Mas não se engane. A crônica que se desenha nos 13 episódios do enredo nada tem do clichê de Cidade Maravilhosa exacerbado pela TV e pelo cinema. Ao contrário. É um olhar nada afável à bolha imobiliária e moral que a cobiça de alguns setores vêm criando na capital fluminense nessa véspera de Copa e Olimpíada, em que todo mundo acha que pode fitar rico.
O espanto sobre esse quadro aparece sob o olhar de um quase estrangeiro: Fred (Miguel Thiré), um carioca que retorna à sua cidade após 13 anos no exterior, para participar da missa de sétimo dia do pai e cuidar da venda do único patrimônio da família, o Copa Hotel. A ideia inicial é assinar a papelada e voltar a Londres, mas o garoto se irrita com a pressa do irmão (não sanguíneo), que representa a cobiça do carioca diante de um Rio que está na moda e deve faturar urgentemente como puder, não importa o custo disso para o futuro.
A volta àquele cenário conduz Fred a uma revisita ao passado, às diferenças que o afastaram do pai, à crítica de uma cidade à beira do caos. Bingo: o bom moço desiste de vender o hotel e passa a se empenhar na sua recuperação - sempre cercado de duas belas mulheres: Maria Ribeiro, que interpreta a médica que cuidou do pai moribundo, e Antonia (Fernanda Nobre), atriz paulistana que busca uma chance no Rio.
Com argumento de Giuliano Cedroni, um dos sócios da produtora Pródigo, responsável pela realização da série, e Tatia-na Roza, Copa Hotel tem João Paulo Cuenca e Felipe Bragança como roteiristas, com texto final de Mauro Lima, que assina a direção-geral.
“Se, para quem mora no Rio de Janeiro já é chocante o preço que as coisas estão ganhando, imagina para quem morou 13 anos fora?”, pergunta Cuenca, filho de argentino, que viaja com frequência ao país vizinho e passou seis meses fora do Brasil no ano passado. Isso, acredita, lhe propicia uma relação de amor e ódio com a cidade. “A gente quis fazer essa crônica não só financeira ou imobiliária da cidade, mas do comportamento, dessa ideia de visão de grandeza, desse deslumbre, dessa fantasia que muitas vezes se divorcia dessa cidade maravilhosa que você vê no in~ fográfico do jornal, nos planos imobiliários e que não tem correspondente na vida real”, fala. “Acho que o Rio de Janeiro está vivendo uma visão esquizofrênica total. Ela (a cidade) não é, mas sonha que é.”
No primeiro episódio, Fred ouve de um amigo que o terreno do hotel do pai deve valer, por baixo, uns R$ 20 milhões. Ele não acredita. O irmão, Luís Otávio (Luca Bianchi), defende que a hora de vender é essa. “Isso não é uma bolha”, diz, “é um aneurisma, isso vai explodir a qualquer momento”.
Para Cuenca, a situação, que já começa a ser percebida pelas pessoas nas mas como um risco, vem expulsando o carioca do Rio. “A cidade está ficando mais cara e expulsando as pessoas. O Rio tá vivendo numa ciranda imobiliária, todo mundo não tem dinheiro pra pagar o próprio aluguel. O cara que morava no Leblon vai morar no Flamengo, que vai para a Tijuca, e o sujeito da Tijuca está indo para Deodoro. E um processo de elitização.”
A boa notícia é que essa leitura nao acabará em 13 episódios. O GNT já encomendou à Pródigo a produção de mais uma temporada, com mais 13 episódios. A hora é essa.
Fonte: O Estado de S. Paulo / Caderno 2
Nenhum comentário:
Postar um comentário