quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ganho de domésticas elevou consumo no Brasil em US$ 25 bi

Até mesmo famílias de renda mais alta se beneficiaram da valorização

Cássia Almeida

LEI JOAQUIM NABUCO

A valorização de 86% nos salários dos empregados domésticos brasileiros de 2006 a 2011 impulsionou a economia brasileira de tal modo que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) cresceu 0,58% a mais no período, acrescentando R$ 19 bilhões ao PIB, só por causa dessa valorização. Considerando somente o consumo da população, a cifra sobe para US$ 25 bilhões, nas contas dos economistas Edson Paulo Domingues e Kênia Barreiro de Souza, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais, em estudo feito para as Nações Unidas.

Esse avanço na renda dessa categoria de assalariados beneficiou a todos, inclusive os que estão no topo de pirâmide de renda, ou seja os 10% mais ricos entre as famílias brasileiras. A alta no consumo proporcionada pelos ganhos dos empregados domésticos fez a economia crescer mais, e aumentou a renda dos mais ricos em 0,13% entre 2006 e 2011.

"Os resultados mostram que 0,58% do crescimento econômico do período pode ser atribuído às mudanças no mercado de trabalhadores domésticos, que desencadearam aumentos de renda principalmente para as classes menos favorecidas da economia brasileira. Dessa forma, a valorização do trabalho doméstico permitiu o aumento do consumo principalmente de bens essenciais, como eletrodomésticos e serviços de saúde, aumentando o nível de bem-estar geral da população", diz a pesquisa.

O estudo mediu qual o efeito foi maior na economia: a valorização do salário dos empregados domésticos ou o aumento de custo das famílias com essa mesma valorização. Nas simulações, o efeito foi positivo para economia, sem contar com a redistribuição de renda. Os que trabalham na atividade e viram seus rendimentos crescerem estão na base da pirâmide de renda, enquanto os que consomem esses serviços se concentram no topo da pirâmide: 61,22% do consumo de serviços domésticos estão entre os 10% que ganham mais.

- A geração de renda mais que compensou o aumento do custo do serviço doméstico - afirmou Domingues.

Assim, enquanto os ganhos para os mais ricos limitou-se a 0,13% em cinco anos, entre os 10% mais pobres, a variação foi de 6,61%, diminuindo a desigualdade histórica brasileira. Enquanto o salário subia, a oferta de mão de obra diminuía. Mesmo com a valorização nominal dos salários bem acima da média - as domésticas tiveram ganho de 86,56%, contra 64% dos demais trabalhadores - houve queda no número de ocupados nessa atividade. Passou de 1,613 milhão em 2005 para 1,548 milhão em 2011.

- O crescimento da renda na faixa mais baixa ajudou a gerar empregos. Foram mais 630 mil vagas de 2006 a 2011, ou 0,77% dos empregos gerados no período - disse o professor da UFMG.
Mesmo assim, o salário das domésticas ainda é menos da metade do rendimento de outros trabalhadores.

Fonte: O Globo

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