Para presidente do BC, situação está sob controle, mas há riscos
Eliane Oliveira, Cristiane Bonfanti
BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou ontem que a inflação tem se mostrado resistente nos últimos meses em função da elevação do preço de alimentos e dos serviços, e deixou claro que, se necessário, a autoridade monetária elevará a taxa básica de juros (Selic) para combater a alta de preços. Durante audiência pública no Senado, Tombini disse que a inflação "está sob controle, mas encerra riscos à frente".
- A inflação tem mostrado uma certa resistência ao longo dos últimos meses. Há pressão dos preços de alimentos in natura , a inflação de serviços voltou a subir e existe maior difusão do aumento de preços na economia - afirmou.
Tombini disse ainda que o BC não se submete a qualquer tipo de pressão, que não "doura a pílula" e "apresenta suas melhores projeções em relação à inflação". As afirmações vieram uma semana depois do desgaste causado pelas declarações da presidente Dilma Rousseff, que disse ser contrária a políticas de combate à inflação que causem redução do crescimento econômico. Depois de uma reação do mercado financeiro com redução de juros futuros, Tombini recorreu a uma agência de notícias para corrigir as declarações e Dilma veio a público afirmar que sua fala foi manipulada.
Na audiência de ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Tombini foi questionado por senadores da oposição sobre um possível enfraquecimento do BC. Ele reiterou que não há tolerância com a inflação e que, nessa diretriz, governo e BC monitoram e avaliam medidas para manter o controle:
- Em relação à declaração da presidenta, que na semana passada se pronunciou a respeito disso, não há tolerância em relação à inflação. Vamos acompanhar a evolução e definir os próximos passos, a necessidade de adoção de outras medidas de combate à inflação no período à frente.
Comunicação com o mercado
Tombini disse que o BC não só identificou o risco de inflação, como alterou a comunicação com o mercado, ao retirar de seus comunicados a informação de que havia o compromisso com a manutenção da taxa de juros inalterada por "tempo suficientemente prolongado". Ele ressaltou que o BC está acompanhando com cuidado a evolução do cenário econômico "para trabalhar a necessidade de outras medidas no combate à inflação em um período pela frente".
- O que temos dito é que vamos acompanhar o cenário macroeconômico nesse período à frente para, então, nas nossas reuniões, decidir se e quando dar um passo adicional. (...) O BC não está apenas analisando, olhando a paisagem. O BC está atuando- disse.
A fala de Tombini e as incertezas sobre o rumo da política monetária influenciaram o resultado da Bovespa. Descolada dos pregões internacionais, a Bolsa perdeu a linha dos 55 mil pontos. O Ibovespa, índice de referência, fechou em queda de 1,81% aos 54.889 pontos. Foi a maior baixa desde 20 de fevereiro. Segundo analistas, os investidores reagiram negativamente aos dados mais fracos que o esperado sobre a produção industrial (-2,5%).
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou praticamente estável, a R$ 2,019 na compra e R$ 2,021 na venda, uma queda de 0,04%.
- A incerteza sobre quais medidas virão provoca esse tipo de reação exagerada na Bolsa - disse Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos.
Fonte: O Globo
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