Ex-crítico ferrenho do PT e de Lula, novo ministro não vê problemas em acumular cargos ou substituir Geraldo Alckmin em junho
Karla Correia
Indiferente à polêmica em torno de sua dupla função administrativa — como vice-governador de São Paulo e, agora, como membro do governo Dilma Rousseff —, o novo ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, tomou posse ontem no comando da pasta afirmando que só renunciará ao posto de vice do governador tucano, Geraldo Alckmin, “por decisão judicial”.
“Eu não sirvo a dois senhores. Eu sirvo a uma causa com que os dois senhores concordam”, disse Afif, que, no passado, se destacou na oposição ao governo e colecionou críticas à administração federal petista, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário na corrida presidencial de 1989 e até mesmo à presidente Dilma Rousseff.
Foi justamente a própria biografia e o que chamou de “proximidade” com a presidente Dilma que Afif invocou ao justificar sua nomeação para a recém-instalada secretaria, criada especialmente para abrigar o PSD na base de sustentação do governo. O novo ministro, contudo, refutou a hipótese de o partido passar a compor oficialmente a base aliada apenas por ter conquistado um posto na Esplanada. “O PSD apoia a reeleição da presidente Dilma sem que isso signifique a troca de cargos”, afirmou.
O fenômeno da dupla função de Afif é alvo de duras críticas dentro do PSDB, partido do governador Geraldo Alckmin. O vice-presidente do partido, Alberto Goldman (SP), classificou a situação como “politicamente inaceitável” em seu blog. O próprio Alckmin, entretanto, evita acirrar os ânimos e chegou a parabenizar a presidente, em nota, pela nomeação de Afif.
Ética pública
Já empossado, o novo ministro minimizou as críticas. “É da política, coisa de quem não está satisfeito”, observou. Mas antes mesmo de completar um mês no cargo, Afif verá sua situação ser avaliada dentro da Comissão de Ética Pública da Presidência, em sessão marcada para o próximo dia 20. Ainda assim, o novo ministro descarta a hipótese da renúncia. “O vice já é um licenciado, porque ele é um stand-by. O que ocorre é que o vice é um ser eleito. Por isso, a renúncia seria um fato muito grave”, argumenta. “A legislação não tem nada que me impeça de assumir o cargo”, asssegurou.
A estranheza da situação de fazer parte de duas gestões — com orientações políticas opostas — será ainda maior em junho, quando Alckmin deve se ausentar do país e Afif poderá assumir o governo de São Paulo. A hipótese de se afastar da pasta nesse período não foi confirmada pelo novo ministro. “Isso está muito longe. Quando chegar a época vamos decidir. Todo mundo sabe da minha condição e as condições jurídicas que se revestem nesse ato. Portanto, foi tudo meditado”, limitou-se a dizer.
Afif tomou posse da secretaria defendendo a redução da burocracia em torno da legislação que incide sobre as micro e pequenas empresas. “Burocracia é como colesterol, tem o bom e tem o ruim. O bom é o serviço público exemplar, que lubrifica as artérias, permitindo o fluxo. O ruim é aquele que entope, atrapalha o desenvolvimento do país. É esse que vamos combater, a má burocracia”, comparou o ministro, ao afirmar que a pasta “não será da verba, mas do verbo”.
A comparação serviu para compensar a frustração de assumir um Ministério com orçamento de R$ 54,3 milhões ante os R$ 165 bilhões do Ministério dos Transportes (o mais valioso da Esplanada). “O ministro está sendo modesto, (a pasta) vai ser também da verba”, brincou Dilma, em seu discurso. “A micro e a pequena empresa precisam de uma política de crédito, precisam de uma política tributária”, disse a presidente.
Fonte: Correio Braziliense
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