Por Raymundo Costa e Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - A eleição do senador Aécio Neves (MG) presidente nacional do PSDB pelos próximos dois anos, ocorrida na convenção nacional de sábado, em Brasília, praticamente consolida sua candidatura à Presidência da República em 2014, mas ainda não garante a adesão dos tucanos paulistas ao projeto nem tira totalmente o ex-governador José Serra da disputa. Setores do Mobilização Democrática (MD), partido resultante da fusão do PPS com o PMN, mantêm expectativa de atrair Serra para a sigla, sem descartar até a possibilidade de ele concorrer à Presidência.
Ao discursar, Aécio falou do legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e traçou, para o PSDB, o perfil de um partido liberal com preocupações sociais. Sem os subterfúgios de outros encontros e campanhas, Aécio disse que o PSDB era o partido da "estabilidade econômica", mas também o dos "programas de transferência de renda". Sem meias palavras disse que o PSDB era o "partido das privatizações que tão bem fizeram ao Brasil" e da Lei de Responsabilidade Fiscal. "Somos o partido que permitiu que milhões de brasileiros voltassem a consumir".
Fernando Henrique fez um desabafo, ao se referir ao fato de que o governo hoje recorre a medidas que adotou em seu governo, como as privatizações. Acusou o PT de jogar sua história na "lata de lixo" e se referiu a críticos de seu governo como "gnomos morais, gente que não tem qualificações".
Nesta semana o partido começa a exibir na televisão uma série de comerciais de 30 segundos, especialmente dirigidos às classes C e D. Os comerciais e programas foram testados em grupos de pesquisa qualitativa, antes de a exibição ser aprovada. A estrela dos comerciais será Aécio Neves, embora os tucanos tenham um acordo tácito para que seus principais líderes, neste momento, não falem de candidatos, para não colocar a sonhada unidade mais em risco ainda.
A palavra de ordem da convenção foi a unidade partidária. Aécio foi eleito com 97% dos votos. Mas Serra prendeu a atenção do auditório e foi quase tão aplaudido quanto ele e Fernando Henrique Cardoso. A história recente do PSDB, partido criado em 1988, revela que nem sempre o clima amistoso das convenções se transforma em prática no dia a dia das campanhas eleitorais.
Em 2002, o então presidente do partido, Tasso Jereissati, apoiou publicamente a candidatura de Ciro Gomes, então no PPS. A família Covas, de São Paulo, lançou o nome de Tasso. E assim como viria ocorrer em 2006, com Geraldo Alckmin, e 2010, novamente com Serra, o tucano foi "cristianizado" em Minas Gerais pelo agora presidente do PSD, Aécio Neves.
Serra foi o único a ler um discurso previamente escrito, o que não é normal nessas ocasiões. A presença do ex-governador de São Paulo no encontro chegou a ser colocada em dúvida. Serra compareceu, numa aparente estratégia de redução de danos, mas seu discurso condiciona a candidatura presidencial do PSDB à "organização das forças sociais e políticas da resistência democrática" e se coloca como referência: "Quem quiser saber o que eu penso, só tem uma fonte confiável: eu mesmo", disse.
O presidente do MD, deputado Roberto Freire (PE), participou da convenção tucana, assim como o presidente do DEM, senador José Agripino (RN). As duas siglas foram parceiras do PSDB nas últimas eleições presidenciais. Freire, no entanto, sempre foi mais ligado a Serra. E teve a cautela de não fazer referência à candidatura de Aécio em seu pronunciamento, ao contrário de muitos oradores que o antecederam.
E mais: no mesmo sábado, mais tarde, a assessoria do MD divulgou nota com declaração de Freire esclarecendo que o MD "ainda não definiu quem será o candidato a presidente que a nova legenda deve apoiar nas eleições de 2014".
Para o deputado, "esse é um assunto sem definição na MD", partido que, segundo ele, estará "do mesmo lado" que as demais forças de oposição no projeto para derrotar o PT na eleição de 2014. O que não quer dizer que estará numa aliança que uniria todos.
A resistência do PSDB de São Paulo em aderir publicamente à candidatura de Aécio ao Palácio do Planalto de forma tão antecipada começa do governador Geraldo Alckmin. À frente do Estado com o maior colégio eleitoral do país, Alckmin tem manifestado a opinião de que é cedo para o PSDB tomar essa decisão, a mais um ano da convenção partidária que escolherá o nome.
O novo secretário-geral do partido, deputado Mendes Thame (SP), ligado a Serra e Alckmin, também deixou essa posição clara na convenção. Admitiu que a união do partido ainda é um "processo" e que o candidato a presidente terá de ser escolhido por toda a sigla. Mas admitiu que, com o comando partidário, Aécio leva vantagem sobre qualquer outro.
Mantido o atual cenário de possíveis pré-candidatos contra a presidente Dilma Rousseff, com Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves e Marina Silva (que tenta tornar viável uma nova sigla, o Rede Sustentabilidade), será a primeira vez em 50 anos que São Paulo não terá candidato à Presidência.
Fonte: Valor Econômico
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