A escalada de manifestações contra os aumentos das tarifas de ônibus e contra os gastos com a Copa do Mundo teve mais um capítulo violento ontem. Cerca de 300 pessoas foram contidas pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e tiros de bala de borracha, antes do jogo México e Itália, no Maracanã, no Rio de Janeiro.
Governos municipais, estaduais e o federal abrem a semana em busca de uma solução negociada para a crise. O ministro Gilberto Carvalho recebe, hoje, no Planalto, representantes dos grupos que participaram do movimento de sábado no Mané Garrincha. Em São Paulo, o governador, Geraldo Alckmin, aceitou dialogar. Os atos ganharam a solidariedade de brasileiros em Dublin, na Irlanda.
Negociação para evitar confrontos
Autoridades em São Paulo e em Brasília convocam reunião com os organizadores a fim de enfrentar a onda de passeatas e garantir atos pacíficos, sem prejudicar a população
Julia Chaib
A onda de protestos que começou há duas semanas em São Paulo, contra o aumento das tarifas de transporte público, se estendeu agora ao calendário de jogos da Copa das Confederações. Além da manifestação que ocorreu em Brasília, na estreia da Seleção Brasileira na competição, ontem foi a vez do Rio de Janeiro, no jogo da Itália contra o México. Ao atrelar os atos ao evento internacional, o movimento, que avançou por, pelo menos, 10 municípios e que já tem adesão de brasileiros em outros países, ganha ainda mais visibilidade. Pelo menos 30 cidades no Brasil e no exterior têm protestos marcados para esta semana. Para evitar que haja descontrole e uso da força policial, autoridades em São Paulo e em Brasília querem negociar com os participantes.
O objetivo é garantir que os protestos sejam de fato pacíficos, com a prévia definição dos trajetos, para evitar danos e prejuízos à população. Hoje, haverá protesto em São Paulo — o quinto pela redução das tarifas de transporte na capital — para o qual 180 mil pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook até a noite de ontem. A Secretaria de Segurança Pública do Estado se encontra pela manhã com membros do movimento pela manhã para garantir que seja pacífico. Na capital federal, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também tem reunião marcada para hoje com manifestantes (leia mais na página 27).
"Queremos que os participantes exerçam o direito de manifestar. A Polícia Militar tem condições de planejar com algumas horas de antecedência a melhor forma de reduzir o encontro com o restante da população e de proteger os manifestantes. O fundamental é definirmos um trajeto que será percorrido. Com isso, faremos um bloqueio de rua, de modo que a população não saia prejudicada", disse o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella. Amanhã, a prefeitura de São Paulo fará uma reunião para discutir a questão do transporte público. O último protesto na capital paulista, na quinta-feira passada, foi marcado por violência policial e atos de vandalismo de alguns participantes. Dezenas de pessoas ficaram feridas e mais de 200 foram detidas.
Atos de apoio aos movimentos brasileiros aconteceram ontem em duas cidades estrangeiras, Dublin, na Irlanda, e em Berlim, na Alemanha. Em Porto Velho (RO), centenas de pessoas também fizeram passeata que disseram ser "a favor da democracia".
Em Dublin, na Irlanda, brasileiros fizeram ato de solidariedade
Maracanã
A exemplo da manifestação que ocorreu no sábado, em Brasília, nos arredores do Estádio Mané Garrincha, no Rio, a área próxima ao Maracanã, foi palco de protesto ontem. Para conter os cerca de 800 manifestantes que queriam se aproximar dos portões de entrada, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e tiros de bala de borracha contra o grupo. O ato no Rio começou pouco antes do início do jogo entre México e Itália, às 16h. Os manifestantes pediam a redução da tarifa da passagem de ônibus e criticavam os excessos de gastos com a competição.
O embate ocorreu na saída da estação de metrô São Cristóvão, a cerca de um quilômetro do Maracanã, onde cerca de 50 mil pagantes entravam para ver o jogo. Uma equipe da Força Nacional se uniu à tropa de choque para impedir que o grupo chegasse muito perto do estádio. Com a reação da polícia, os manifestantes foram em direção ao Parque Quinta da Boa Vista, que fica próximo à estação do metrô. Pais e crianças que estavam no local também foram atingidos pelo gás lacrimogêneo e pelo spray de pimenta, sem contar o pânico pelo qual passaram. Pelo menos cinco pessoas foram detidas.
O grupo foi disperso depois de uma negociação com a polícia, por volta das 17h. Os participantes relataram que ela foi bastante violenta. Quando terminou a partida, perto das 18h, porém, manifestantes voltaram a se aproximar do estádio. A PM formou um cordão para não deixar que eles chegassem perto da arena e atrapalhassem a saída das pessoas. Antes do início do jogo, vários torcedores tiveram de cobrir o rosto para evitar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo. A manifestação cessou de vez por volta das 19h.
Exterior
Na capital irlandesa, Dublin, cerca de 2 mil pessoas, número estimado pela polícia local, compareceram à manifestação pacífica pela manhã. Na Alemanha, em Berlim, cerca de 400 brasileiros participaram do ato contra o aumento de tarifas de transporte público e contra excessos da polícia brasileira. "Na sexta de manhã, depois da truculência da noite de quinta em São Paulo, a gente resolveu fazer a nossa parte por aqui também, para chamar a atenção da mídia internacional e dar apoio aos que estão apanhando no Brasil", disse uma das organizadoras do evento. Nenhum confronto ocorreu nas duas situações. Hoje, devem ocorrer protestos em outras 13 cidades brasileiras e em mais duas no exterior. Ao longo da semana, outras manifestações também estão sendo organizadas.
Fonte: Correio Braziliense
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