Pré-candidatos à Presidência da República têm nos prefeitos fortes armas na busca por votos. Parlamentares e especialistas lembram, porém, que essa fidelidade pode ter preço
Felipe Canêdo
Cortejados de forma indiscreta por pré-candidatos a presidente da República no ano que vem, prefeitos de todo o país formam um exército poderoso na guerra eleitoral por votos, mas sua fidelidade é volátil e depende de vários fatores. Levando-se em conta somente os partidos que atualmente sustentam cada candidatura, Dilma Rousseff (PT) larga na frente, com 1.659 petistas e peemedebistas que comandam prefeituras em todo o país. Em seguida aparece o senador Aécio Neves (PSDB), que soma 1.103 chefes do Executivo municipais na sua linha de frente, tomando como base tucanos e filiados ao PPS e ao DEM.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ainda não fechou alianças em torno de seu projeto, mas já conta com 442 prefeitos da legenda que preside. Marina Silva batalha pela criação de seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade – que precisa ser registrado até outubro – e ainda não é possível estimar o número de políticos que vão apoiá-la. O PSC e o PSOL, que também devem lançar candidatos, têm respectivamente 83 e duas prefeituras. De um total de 5.564 municípios do país, 3.934 são governados pela base aliada do governo federal – sem contar os do PSB e PSC –, mas o passado recente mostra que isso não é garantia de apoio.
Deputado federal e tesoureiro do PSDB, Rodrigo de Castro afirma que essa realidade recortada pelas afinidades partidárias tende a se modificar no ano que vem. "Há uma insatisfação visível dos prefeitos com o governo Dilma. A queda de arrecadação no Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e a concentração de recursos na esfera federal contribuem para isso. A economia também não vai bem, isso influencia. E os próprios partidos não têm uma base coesa", ele argumenta.
Reginaldo Lopes (PT), deputado federal e presidente estadual de seu partido, rebate que o governo federal ganha muitos adeptos devido aos programas sociais que lançou. "Temos uma vantagem numérica, mas é bom lembrar que em se tratando de municípios nosso governo tem sido muito republicano. Tem muita gente que está conosco por isso. Tem até gente do PSDB que nos apoia por isso", afirma Lopes. O tucano sustenta que os prefeitos se preocupam mais com questões locais e têm mais influência na eleição para o Congresso do que na presidencial, mas, mesmo assim, são ferramentas importantes para o pleito do ano que vem. O petista defende que o número de prefeitos que apoia uma candidatura "é importante, mas não é definidor".
O deputado federal Júlio Delgado (PSB) concorda que ter uma base grande de prefeitos ajuda, mas também bate na tecla da situação dos caixas vazios dos municípios: "Levando-se em conta que o momento dos prefeitos é muito difícil, com a redução do FPM isso pode até virar um revés. Prefeito bem-avaliado é quem traz voto, prefeito mal-avaliado tira voto", ele diz.
Um dos mais empenhados apoiadores da candidatura de Marina Silva, o ex-deputado federal José Fernando Aparecido afirma que não ter uma base extensa não preocupa os partidários da Rede. "Nossa posição é de aliança com a sociedade em cima de questões objetivas. A gente vai contra essa política de cooptar lideranças, prefeitos, de troca de favores. Estamos fazendo um esforço gigantesco agora para que a gente possa registrar o partido", afirma.
Três pilares de uma eleição
O cientista político Rudá Ricci afirma que uma eleição atualmente é vencida com três pilares: o marketing, os operadores políticos e os deputados federais. Ele situa os prefeitos como operadores políticos fundamentais, que têm a função de criar uma rede capilarizada em todo o país que reverbere o discurso do candidato. "É importante que uma leitura de um fato político que é feita lá em cima, na cúpula da candidatura, vá passando para baixo, e os prefeitos entram aí. É claro que essa rede é muito parcial, é assim que funciona", ele explica.
Para ele, a filiação partidária não garante a fidelidade de um prefeito e casos como o do PP, PR e PDT, que integram a base do governo Dilma e também a base do governo Antônio Anastasia (PSDB) em Minas, devem ser estudados com atenção. "Hoje, o que marca a política no Brasil é o cinismo e o pragmatismo. Se o prefeito receber obra e emenda parlamentar, ele apoia. E emenda não vem necessariamente do governo federal. Fidelidade hoje tem a ver com recurso para obra e emenda parlamentar."
Rudá lembra que Minas Gerais presenciou situações políticas inusitadas nos últimos anos, como as que ficaram conhecidas como Lulécio e Dilmasia. O apoio de personalidades a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente e a Aécio Neves para governador, em 2006, e a Dilma e Anastasia, em 2010, garantiu votos para ambos, PT e PSDB.
Fonte: Estado de Minas
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