segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A economia brasileira em novo ritmo - Luiz Carlos Mendonça de Barros

Os principais números sobre o comportamento da economia brasileira na primeira metade de 2013 já estão disponíveis para a comunidade de analistas. Com isto já é possível projetar-se o crescimento do PIB neste período com algum rigor. Foi o que fez o Banco Central na última quinta-feira ao divulgar sua estimativa para a variação do PIB mensal - o chamado IBC-Br - do mês de junho. Com o crescimento de 1,1% em relação ao mês de maio na série dessazonalizada, o fechamento para o trimestre abril/junho ficou em 0,9% sobre o trimestre anterior e 4% sobre o mesmo trimestre de 2012.

Alguns números me chamam a atenção e gostaria de apresentá-los ao leitor do Valor.

Embora o indicador mensal do Banco Central para o PIB apresente algumas distorções quando comparado com o PIB oficial do IBGE, quando considerado em prazo mais longo e com o devido tratamento estatístico sua aderência é bastante grande; no gráfico abaixo, onde apresento os dados de uma média móvel trimestral do IBC-Br, uma linha de tendência mostra que retomamos uma trajetória de crescimento a partir da metade do ano passado. Também podemos inferir destes dados que o crescimento econômico retomado depois da ressaca de 2010 se dá a uma velocidade bem mais baixa do que a que prevaleceu no período Lula. Ainda necessitando de mais observações para cravar com certeza um número para esta nova velocidade, minha intuição é que estamos voando a um ritmo de cruzeiro de 2% ao ano.

O segundo trimestre deste ano deverá mostrar uma taxa de crescimento do PIB próximo a 3,4% ao ano, superior à verificada no primeiro trimestre (2,4%). Mas como nos três meses entre julho e setembro o número deverá ser muito fraco, a média para o ano como um todo deverá ser puxada para baixo. Resumo da ópera: estamos crescendo bem menos do que no passado, mas ainda é muito cedo para configurar um quadro de desastre que muitos analistas têm apregoado.

Pouco antes da divulgação do IBC-Br os analistas puderam mergulhar em um dos fenômenos marcantes deste governo Dilma Rousseff, que é a aceleração da inflação e seus efeitos sobre o crescimento do Brasil. No quadro abaixo apresento as taxas nominais e reais de crescimento das vendas no varejo e um índice que mede a relação entre essas duas taxas. Na prática, este índice mede a influência da inflação na queda do consumo das famílias, ou seja, permite separar o valor nominal das vendas do varejo da quantidade real de bens que os consumidores levaram para casa. Esclareço que na medida do PIB realizada pelo IBGE é a quantidade física - ou uma aproximação dela - que entra no cálculo.

Nos doze meses encerrados em janeiro de 2013, tomando como base o comércio restrito - sem considerar a venda de veículos e bens ligados à construção civil - a relação entre os gastos em reais dos consumidores e a quantidade de mercadorias levada para casa foi de 67%. Em outras palavras, a inflação comeu 33% da renda gasta nestes produtos. A mesma relação em junho último foi de 46%, ou seja, a inflação ficou com a maior parte da renda gasta (54%). O quadro fica um pouco melhor quando incorporamos as vendas de veículos e materiais de construção, ou seja, o chamado comércio ampliado. Embora a aceleração da inflação também apareça nesses dados, a parcela dos gastos nominais que ela corrói é menor em relação ao verificado no comércio restrito.

Outra forma de mostrar os efeitos da inflação sobre o consumidor é medir a inflação implícita nas vendas de alguns setores importantes. Desta forma, se isolarmos as vendas do chamado setor de supermercados chegamos a uma inflação anual de mais de 11% em junho. Ela é um pouco menor do que a verificada nos indicadores do mês de maio, quando a inflação acumulada em 12 meses superou a marca dos 12%.

Outra informação interessante para o leitor vem das vendas ao varejo de móveis e eletrodomésticos. Nos anos de 2011 e 2012, a inflação neste segmento do comércio era negativa - deflação - da ordem de menos 4% ao ano. Vivíamos então a época do dólar barato e da isenção do IPI. Hoje, os preços neste setor crescem a uma taxa anual da ordem de 4%, ou seja, um salto de 8 pontos percentuais.

Os dados da inflação medida pelo IPCA também sinalizam nessa direção. O grupo mais abrangente dos bens duráveis (que tem um peso de cerca de 10% no índice) deve contribuir com quase 0,8% para o aumento da inflação entre 2012 e 2013, ao sair de -3,5% no ano passado para uma estimativa de +4,5% ao final desse ano.

Vivemos nestes últimos meses um período riquíssimo de ensinamentos econômicos sobre os efeitos da inflação no crescimento econômico. Espero que os que sempre defenderam que um pouco de inflação a mais não causa problemas na economia tenham aprendido esta lição. Outra lição para ser aprendida: não procure interferir artificialmente no equilíbrio da taxa de câmbio do real dentro de uma cesta de moedas de países emergentes em relação ao dólar. Voltarei a esta questão com mais detalhes, pois precisa ser explicada em um espaço maior.

Economista

Fonte: Valor Econômico

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