Poupada de ataques na campanha presidencial de 2010, a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) está na alça de mira de seus potenciais adversários em 2014, especialmente do PT e do PSDB. Atualmente, são os tucanos que têm mais motivos de preocupação, uma vez que Marina disparou 13 pontos à frente do senador Aécio Neves, o mais provável candidato do partido à sucessão da presidente Dilma Rousseff, segundo apurou pesquisa do Datafolha.
Trata-se de um cenário real que anima o governo, causa inquietação no PSDB e remete para uma eleição diferente em 2014: desde 2002, na sucessão de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos estão presentes no segundo turno da eleição, duas vezes com o ex-governador José Serra e uma com o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Mas Aécio, pelo menos por enquanto, mantém o discurso em defesa da candidatura de Marina.
Aécio e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, eventual candidato pelo PSB, se posicionaram contrários ao projeto, aprovado na Câmara, que dificulta a criação de novos partidos. A proposta teve o apoio do PT e do governo, ainda está em tramitação no Senado, mas escorreu pelo ralo das manifestações de junho. Protestos que aparentemente beneficiaram mais Marina que Aécio como potencial adversário da presidente Dilma nas eleições de 2014.
O governo e o PT se dizem animados com a possibilidade de enfrentar Marina em eventual segundo turno, pois entendem que podem jogá-la às cordas: sem um partido forte, como ela poderia governar? Enquanto no Instituto FHC se discute e estuda como "esvaziar" o discurso de Marina, o senador Aécio Neves decidiu botar o pé na estrada. Até o fim do ano, Aécio pretende fazer entre oito a dez viagens a São Paulo, maior colégio eleitoral do país, cuja adesão é vital para o projeto do PSDB, sobretudo se José Serra se filiar ao PPS e entrar na disputa e dividir o eleitorado. E a partir de setembro o eventual candidato tucano fará cinco seminários regionais para a discussão da conjuntura nacional e da região sede do encontro.
Enquanto Aécio, pré-candidato do principal partido de oposição, tenta recuperar os pontos perdidos para Marina, o PT já alinhavou um discurso completo para tentar desconstruir Marina Silva. Na avaliação de dirigentes petistas e integrantes do núcleo de campanha da reeleição da presidente, Marina, que é evangélica, terá dificuldades para discutir questões latentes nas grandes cidades, como sexo e drogas. "Essa é uma temática em que a Marina não tem o que oferecer", diz um dirigente do PT.
O PT espera que o PSDB, ameaçado de não passar para o segundo turno, assuma o discurso mais pesado contra a candidata. Mas não hesitará em fazer esse discurso, se julgar necessário. É opinião dominante que Marina passou incólume em 2010, na expectativa do apoio dela no segundo turno, o que não aconteceu. Na realidade, até o voto de Marina, no segundo turno, deve ser cobrado: o PV, partido ao qual estava à época filiada, não apoiou nem Dilma nem José Serra, e Marina nunca disse em quem votou ou se votou em branco.
Segundo o PT, de nada vai adiantar Marina falar bem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como fez na campanha de 2010, ao mesmo tempo em que "cutucava" Dilma Rousseff. Uma fonte credenciada do partido e da campanha da reeleição contou ao Valor que Lula vai assumir o discurso contra a ex-senadora: "Olha, não votem na Marina, a candidata é a Dilma. Ela é que ficou comigo o tempo todo, a Marina foi embora, já se ligou com outros, está aí com uns empresários que eu não conheço bem. É contra a política", deve ser o discurso de Lula.
O fato de Marina se manter distante da política tradicional também deve ser questionado tanto pelo PT como pelos adversários. O próprio José Serra, como já havia feito Lula, falou sobre a importâncias das demandas e conflitos da sociedade serem resolvidas no território da política. Marina, lembra-se no PT, nem no partido que está com dificuldades para botar de pé colocou a palavra "partido". É Rede Sustentabilidade. "Ela vai apanhar como cachorro magro", diz um cardeal petista.
Fonte: Valor Econômico
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