Se tudo correr como previsto, o dia de hoje poderá ficar marcado como o ponto final do julgamento mais caudaloso da história.
Embora bola de cristal seja instrumento de uso temerário quando a tenda da cartomante fica no Supremo Tribunal Federal e, nessa conta, esteja a resolução rápida dos recursos pendentes sobre pontos do acórdão do mensalão, há certo consenso em Brasília de que dificilmente os chamados embargos infringentes serão considerados como admissíveis.
Ou seja, nada de rever condenações cujo placar foi apertado. Nada de livrar José Dirceu de um tempo em regime fechado. É curioso ver como a moral vigente entre os que defendem o ex-ministro iguala a preocupação humanitária, de não querer vê-lo sofrendo em cana, a uma absolvição.
Mesmo que escapasse do regime fechado, Dirceu continuaria sendo o todo-poderoso petista que acabou condenado por corrupção, não?
Enfim, se tudo isso acontecer, restará então saber quando as sentenças serão executadas. O senso comum indica que Joaquim Barbosa não perderá tempo, ainda mais às vésperas de um 7 de Setembro que promete ser turbulento, mas até isso é imprevisível na prática.
Há notas subjacentes. Existe uma impressão no meio político de que o STF quer virar a página do mensalão, que consome o tribunal quase que integralmente desde o ano passado. Parafraseando Nietzsche, a corte está contemplando o mensalão há tanto tempo que o processo agora a mira fixamente nos olhos.
O efeito hipnótico há de cessar um dia, e não só magistrados pensam assim. Ainda que torçam por Dirceu, muitos petistas no partido e no governo dividem o desejo pelo desfecho: por indelével que seja a mancha em suas histórias, seria melhor para esses pragmáticos precificar as prisões agora do que ver o tema se arrastar por mais um ano eleitoral.
Naturalmente, tudo isso dependerá da eficácia da bola de cristal.
Fonte: Folha de S. Paulo
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