Li A História de Mora, de Jorge Bastos Moreno. Conta histórias de Ulysses Guimarães e reconstitui pedaços vermelhos e azuis da política brasileira.
Política é busca do bem público, ensinou Aristóteles. Só existe política a dois, dizia Hannah Arendt. Político é caçador de nuvens, sonhou Ulysses. Política é lidar com o humano. Em aspereza e elevação.
A política brasileira assistiu a dueto de homens notáveis: Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Foram concorrentes, amigos, correligionários, adversários. Sem perder a altura que os nivelava pelo alto em gestos e palavras.
Generosidade. Perdendo Ulysses a presidência do PMDB e não exercendo cargo de direção, o então líder do PFL na Câmara dos Deputados, Luis Eduardo Magalhães, esqueceu as divergências do seu pai, ACM, com o parlamentar paulista. E, superando diferenças partidárias, indicou Ulysses presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Descarte. Em 1984, Tancredo viabilizou sua candidatura a presidente. Grupo no Partido trabalhava ocultamente contra igual pretensão de Ulysses. Esse grupo procurou o apoio do ainda não presidente Lula para apoiar Tancredo no colégio eleitoral. Lula perguntou: "O que vocês vão fazer com Ulysses ?". Responderam: "Ele é nosso Churchill, deu o que tinha de dar ao país".
Bravura. Deixando a presidência do PMDB, em 1991, derrotado por Quércia, Ulysses acentuou no discurso de despedida: "Nossos mortos, levantem-se de seus túmulos. Venham aqui e agora testemunhar que os sobreviventes não são uma raça de poltrões, de vendidos, de alugados, de traidores, venham todos. Não digam que isso é passado. Passado é o que passou. Não passou o que ficou na memória ou no bronze da história".
Respeito. Na sessão do Congresso Nacional em homenagem a Tancredo, Ulysses discursou: "Tancredo era um sábio, sabia conversar, sabia ler, sabia rir, sabia ironizar, sabia ser Cirineu para os amigos amargurados, sabia ver o mar. Eu admirava Tancredo, eu amava Tancredo, eu temia Tancredo".
Luiz Otavio Cavalcanti é ensaísta
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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