Por Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - A poucos dias do fim do prazo para alguém se filiar a partido político pelo qual pretende disputar as eleições de 2014 (um ano antes), o ex-governador e ex-ministro José Serra ainda avalia a conveniência de permanecer no PSDB, onde está totalmente isolado, ou migrar para o PPS, cuja cúpula mantém a oferta da legenda para ele disputar a Presidência da República.
Quanto mais adia a decisão - totalmente solitária -, mais afastada parece a hipótese da troca partidária, mas um dado novo começa a pesar a favor dessa opção: a possibilidade de a ex-ministra Marina Silva ficar fora da disputa presidencial, diante da dificuldade de criação do seu partido, o Rede Sustentabilidade, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nesse cenário, eventual candidatura de Serra seria útil para a oposição, mesmo sem perspectivas de alianças partidárias e com tempo insignificante de propaganda eleitoral na televisão.
Marina aparece nas pesquisas em segundo lugar, atrás da presidente Dilma Rousseff, e sua participação na eleição - ao lado dos presidentes do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e do PSB, governador Eduardo Campos (PE) - aponta para a realização de segundo turno. Sem ela, a presidente tem mais chance de vencer no primeiro turno.
"O PPS está aguardando [resposta de Serra], com boas expectativas", afirmou o presidente do partido, Roberto Freire. "Ele, objetivamente, está entendendo que, para ser protagonista em 2014, seja o protagonismo que for, esse passo deve ser dado: a filiação ao PPS."
Apesar da falta de perspectivas de uma aliança partidária nacional forte, o dirigente do PPS acredita que uma eventual candidatura de Serra a presidente pela sigla teria apoios de diferentes partidos nos Estados. O PPS terá candidato próprio a governador no Distrito Federal, no Maranhão e no Amazonas.
Uma outra dificuldade para a mudança de partido é que nenhum aliado acompanhará Serra. Os tucanos mais próximos a ele avisaram que não teriam condições de trocar de partido, pelas circunstâncias locais de suas bases. Além disso, quem tem mandato só não corre o risco de perder o cargo se for para uma legenda em formação, que não é o caso do PPS.
Embora o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), diga que já sinalizou a Serra que, ficando no partido, ele terá espaço relevante na campanha, nada de objetivo foi oferecido. Tucanos que defendem a permanência do ex-governador avaliam que falta um gesto concreto e público de Aécio no sentido de prestigiar Serra - se quiser mesmo segurá-lo.
Aécio hoje controla o PSDB e só não será candidato a presidente se não quiser. As divergências entre ele e Serra são grandes. Permanecer no PSDB, isolado como está, é um incômodo para o ex-governador de São Paulo. Se ficar, sua integração à campanha de Aécio não será nada fácil. Além disso, seus aliados estão certos de que qualquer gesto seu poderá ser visto como um problema à campanha nacional do PSDB.
Dirigentes tucanos dizem que, para Aécio, o ideal seria a permanência de Serra no partido, mesmo sem se integrar à campanha. Uma candidatura dele por outra legenda dividiria a base do PSDB em São Paulo, o que não interessa também ao governador Geraldo Alckmin, que disputará a reeleição. Mas há outra ala do partido que vê como positiva a candidatura de Serra por outra legenda, para ajudar a levar a disputa presidencial ao segundo turno e contribuir para derrotar o governo do PT.
Resultado de sondagem recentemente divulgada pelo instituto Paraná Pesquisas, realizada entre 10 e 15 de setembro, com 2.502 eleitores, com margem de erro de 2% (para mais ou para menos), animou dirigentes do PPS, por mostrar rejeição de Dilma maior que a de Serra, cuja candidatura se mostra competitiva.
Fonte: Valor Econômico
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