Para filiar deputados, partidos negociam cargos em diretórios e prometem candidaturas. Romário voltou ao PSB
A hora do leilão
A oito dias do prazo limite para a troca de partido, é intenso o leilão para a filiação de políticos que pretendem disputar as eleições do ano que vem. Em resumo: todo mundo está conversando com todo mundo. As ofertas vão de comando de diretórios regionais à garantia de vaga para a disputa eleitoral do ano que vem. Desfiliado do PSB desde fevereiro, e depois de conversar com dirigentes de PR, PROS e outras legendas, o deputado federal Romário (RJ) anunciou sua volta ao PSB, assumiu o comando provisório do diretório do Rio de Janeiro e recebeu a garantia de que será o candidato à prefeitura da capital fluminense em 2016.
A disputa também é intensa pelo passe da presidente do PT do Ceará, a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins, e ilustra a guerra travada nos bastidores entre petistas e o presidenciável do PSB, Eduardo Campos. Depois de conversar ontem com integrantes do PSB do Ceará, enviados por Campos, Luizianne tem encontro marcado com o presidente do PT, Rui Falcão, na segunda-feira, em São Paulo. Na capital paulista, ela também conversará com o deputado federal Márcio França (PSB-SP), um dos aliados mais próximos do presidente do PSB.
A direção nacional do PSB chegou a anunciar o ato de refiliação de Romário para a tarde de ontem, mas, na sequência, cancelou o evento. O motivo foi que Romário estava conversando, naquele momento, com o deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ). Na disputa, Eduardo Campos levou a melhor, e a refiliação foi feita logo em seguida.
-Eu e Romário conversamos pela manhã. Ele me pediu um tempo para ter a educação, o zelo de falar com outros partidos que o convidaram para que não tomassem conhecimento pela imprensa — afirmou Campos.
Entrega de cargos n0 Rio
Romário anunciou que seu primeiro ato, no comando provisório do PSB do Rio, será entregar os cargos do partido no governo Sérgio Cabral (PMDB). O prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, ex-presidente do diretório estadual, resistia em romper com Cabral.
Questionado se o ex-jogador Edmundo vai ingressar no PSB, Romário disse que seria "um reforço" e que as portas estão abertas. Ao ouvir isso, o presidente nacional do PSB brincou:
— Vamos montar um time?
Romário assume o diretório do PSB no Rio depois do afastamento, pela Executiva Nacional, de Alexandre Cardoso, que é contra a pré-candida-tura à Presidência da República de Eduardo Campos. Romário havia deixado o PSB por causa de desentendimentos com Cardoso, mas também reclamava de não ser recebido por Campos.
Ironicamente, na mesma semana em que negociou seu passe com diversos partidos e acabou voltando ao PSB, Romário tomou-se réu de uma ação penal do Supremo Tribunal Federal por crime contra a ordem tributária. Na terça-feira, chegou ao tribunal o processo no qual o deputado já havia sido condenado na primeira instância, em 2008, e na segunda instância, em 2009. O crime teria ocorrido em 1996 e 1997, no tempo em que jogou no Flamengo e era garoto-propaganda da Brahma. Segundo a Justiça, o artilheiro teria sonegado ao Fisco mais de R$ 1 milhão pelos rendimentos obtidos das duas fontes.
O advogado do deputado, Luiz Sérgio de Vasconcelos Junior, minimiza a chegada do processo ao STF e diz que aguarda a extinção da ação. Segundo ele, Romário já pagou o valor devido e não haveria razão para uma condenação.
— A própria jurisprudência do STF e do STJ
autoriza a extinção com o pagamento e ressarcimento ao Erário. Se ele ressarciu, há extinção da punibilidade a qualquer tempo. O débito foi parcelado e o pagamento, concluído em 2009. Por que ele seria condenado, se pagou? Ele está aguardando essa questão burocrática há quatro anos. Esperamos resolver na próxima semana para que isso não represente nenhum óbice à candidatura dele —- disse o advogado.
Com a saída do governador Cid Gomes (CE) do partido, os socialistas estão oferecendo a Luizianne o comando do PSB no estado, além da vaga na disputa para o governo. A presidente Dilma Rousseff já teria oferecido, de acordo com pessoas próximas à ex-prefeita, assento nos conselhos administrativos da Petrobras e do BNDES, além de um cargo na Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República.
— Ela vai para o PSB se juntar ao (Jorge) Bornhausen, ao (Ronaldo) Caiado? Imagina uma foto dela na reunião da Executiva Nacional do PSB ao lado do Bornhausen? — disse um petista da cúpula nacional petista, em referência a apoios e novos filiados do PSB.
No Congresso, também é intenso o vaivém. Há parlamentares do baixo clero que já passaam por quatro partidos e ainda preparam as malas rumo às novas legendas recém-criadas em busca de espaço privilegiado nos estados. Dos 55 parlamentares que estão negociando a troca de partido, apenas 17 deles (32%) mantiveram-se fiéis a suas legendas até agora.
Entre os que já trocaram de legenda, 0 campeão é o suplente de deputado João Caldas (AL). Atualmente, ele está no PEN, mas já foi de PMDB, PMN, PL, PST, PTB, PL novamente e PEN. Ele foi um dos que trabalharam intensamente para a criação do Solidariedade, e transitou feliz na quarta-feira ao lado de Paulinho da Força. Seu atual partido, o PEN, tão rápido qpanto subiu, cai. Criado em junho do ano passado com três deputados, vai ficar apenas com um representante, a deputada Nilmar Ruiz (TO), que é suplente.
Mudanças atingem velhos militantes
O fluminense Dr. Paulo Cesar já mudou quatro vezes de legenda: começou a vida no PSDB, migrou para o PTB, e elegeu-se deputado federal em 2010 pelo PR. Em 2011, resolveu apostar no re-cém-criado PSD, Agora, mudou de ideia e já volta ao PR a tempo de apoiar o ex-governador Anthony Garotinho nas eleições do próximo ano.
— Sou governo, e o partido se mantém na posição de independência. O PSD tinha uma perspectiva boa, fiquei satisfeito, nasceu grande, mas após dois anos vem me incomodando a posição de independência. Eu sou Dilma — justificou.
Antíteses perfeitas de Caldas e Paulo César, Domingos Dutra (PT), Augusto Carvalho (PPS) e Benjamim Maranhão (PMDB) estão em suas legendas desde a década de 1980. No entanto, a falta de espaço ou divergências regionais também devem levá-los ao pecado pré-eleitoral.
Fonte: O Globo
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