Após criação de duas siglas, deputados e senadores negociam migração
Pros, que deve apoiar Dilma, e Solidariedade, da oposição, disputam parlamentares em 'feirão' no Congresso
Ranier Bragon, Márcio Falcão
BRASÍLIA - A aprovação dos dois novos partidos políticos do Brasil abriu ontem na Câmara a temporada de troca-troca de deputados entre as legendas. Em alguns casos, parlamentares foram disputados em uma espécie de "feirão" de filiações.
A Folha identificou pelo menos 46 deputados --ou 8,9% da Casa-- e um senador que negociam ingressar principalmente no oposicionista Solidariedade, do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), e no Pros (Partido Republicano da Ordem Social), montado por um ex-vereador do interior de Goiás e de tendência governista.
As duas siglas, que receberam aval do Tribunal Superior Eleitoral na noite de anteontem, promoveram ontem reuniões em Brasília, cada uma com cerca de duas dezenas de deputados federais.
Em alguns casos, como os dos deputados Marçal Filho (PMDB-MS) e José Humberto (PHS-MG), a filiação dos dois foi comemorada tanto por um quanto pelo outro partido.
"Estou sendo disputado apenas como um deputado [qualquer]", minimizou Marçal Filho, que ameaça deixar o PMDB devido a divergências regionais com a sigla.
O deputado afirmou ontem que ainda não se decidiu e que "tem resistência" a mudar de partido.
O ex-atacante da seleção brasileira de futebol Romário (ex-PSB-RJ), que cumpre seu primeiro mandato e havia sido anunciado recentemente como "reforço" do PR de Anthony Garotinho, disse, segundo os dirigentes do Pros, "estar 99,9% fechado" com a nova legenda.
No início da noite, conversava no plenário sobre seu futuro com Paulinho, como o presidente da Força Sindical é conhecido.
Apesar de a Justiça Eleitoral ter estipulado em 2007 regras de fidelidade partidária que determinam a perda do mandato de quem muda de sigla, não há punição para a migração a novos partidos, o que tornaram o Solidariedade e o Pros as "estrelas" do atual troca-troca.
Ainda falta saber se o TSE aprovará a Rede, o partido que Marina Silva quer montar para concorrer à Presidência. Posicionada num patamar de 25% das preferências, ela tem potencial de atração.
Um cena presenciada pela Folha anteontem ilustra a corrida pelas filiações que tem tomado conta do Congresso. Elas têm que ser sacramentadas até o dia 5 (um ano antes das eleições) para que o candidato possa participar da disputa de 2014.
Em movimentada mesa da sala de cafezinho do plenário da Câmara, o presidente do Pros, o ex-vereador Eurípedes Júnior, recebia, individualmente ou em grupo, deputados interessados em ingressar na legenda.
Na mesa ao lado, Paulo Pereira da Silva, idealizador do Solidariedade e que deve apoiar Aécio Neves (PSDB) na campanha presidencial em 2014, fazia o mesmo com grupos distintos.
Em pelo menos um caso, o "alvo" era o mesmo. Pouco depois de conversar com o Pros, o deputado José Humberto pulou para a mesa de Paulinho. "Tenho um convite do Solidariedade e do Pros, mas não são os únicos que eu tenho", desconversou o deputado à Folha.
Ativo eleitoral
A migração é motivada por divergências locais com os partidos e pela tentativa dos parlamentares de obter melhor condição para as disputas eleitorais.
Os partidos buscam vitaminar suas bancadas porque um maior número de deputados federais representa acréscimo na fatia do fundo partidário e no tempo de propaganda na TV, dois dos principais ativos das siglas.
Reforçados, o Solidariedade --que ontem afirmava ter fechado com cerca de 25 deputados, com meta de chegar a 35, além do senador Vicentinho Alves (PR-TO)-- e o Pros --que contava com 15 deputados, mas falava em até 30-- desidratarão principalmente o PDT, que deve perder 9 cadeiras e ver encolher sua bancada para 15 deputados.
PR (5), DEM (5), PMDB (5), PSDB (4) e PSB (2) também devem ter perdas expressivas.
Fonte: Folha de S. Paulo
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