terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um ministério para a disputa da reeleição - Raymundo Costa

A presidente Dilma Rousseff demonstra disposição para antecipar a saída dos ministros que devem disputar as eleições do próximo ano, mas essa não é uma solução consensual no governo, nos partidos aliados e muito menos conta com a simpatia dos eventuais candidatos a deputado, senador ou governador de Estado.

Há outros aspectos em discussão sobre a saída dos executivos candidatos em 2014. Um deles é sobre os substitutos dos ministros que deixarão o cargo para disputar as eleições, algo em torno de 12 dentre 18 que detêm ou já tiveram um mandato parlamentar. Esses substitutos também serão de linhagem política ou Dilma se contentará com um ministério tampão, como é usual?

Um ministério tampão seria integrado por secretários-executivos ou técnicos sem maior expressão política, expediente ao qual recorreram tanto Fernando Henrique Cardoso como Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos na expectativa da reeleição, como agora está Dilma, para renovar o governo no início do segundo mandato. Dilma não só pode como dispõe de apoios, em seu partido e nos aliados, para fazer de modo diferente.

A presidente pode até aproveitar a ocasião para tirar ou remanejar um ou outro nome que não seja necessariamente candidato às eleições. Ninguém deve ser considerado "imexível", como deixa bem claro o exemplo da demissão de Antonio Patriota: trocar chanceler é como trocar ministro da Fazenda ou presidente do Banco Central, a repercussão é internacional.

Se depender do PT, a presidente manda para casa o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que acumulou um largo contencioso com o partido. Ex-deputado federal, Bernardo é um dos 18 ministros com passado parlamentar e que podem ser candidatos. É provável que ele não dispute a eleição, pois sua mulher, Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil, será candidata ao governo do Paraná.

Bernardo pode ser remanejado - ele não seria candidato, mas ficaria no governo em outro lugar. Se essa for a solução, o ministro seria substituído por outro nome do PT - um senador ou deputado que não seja candidato em 2014 (no caso de senador, pode ser alguém com mais quatro anos de mandato), por exemplo, ou inequivocamente identificado com o partido.

O que importa, do ponto de vista partidário, é a nomeação de ministros que façam o jogo da política. Não da política partidária, mas da política de governo, o que anda em falta na atual gestão segundo avaliação feita tanto no PT como no Palácio do Planalto. Um exemplo bem acabado de como fazer "a disputa política" seria o ministro Alexandre Padilha (Saúde), que comprou o debate com a oposição sobre o programa Mais Médicos.

Integrantes do governo chegaram a contar o número de vezes que Padilha apareceu no horário nobre da televisão para falar do Mais Médicos, seja para rebater associações de classe ou as críticas dos partidos de oposição. Passa da dezena. O saldo geral é favorável, até agora, segundo se avalia no governo. As associações de médicos não só foram carimbadas como "corporativas" como Dilma teceu um enredo, para sua campanha eleitoral, de que precisou dobrar a oposição a fim de levar médicos às regiões mais carentes do país. Só precisa que o programa seja um sucesso.

Padilha é um problema para o cronograma sugerido, no Palácio do Planalto, para a reforma ministerial: dezembro ou janeiro. Se depender só do ministro, ele cumpre o prazo regulamentar previsto na legislação eleitoral para deixar o cargo: 3 de abril de 2014, seis meses antes da data da eleição. Como, aliás, fez a "Mãe do PAC" em 2010.

O ministro da Saúde foi sagrado pela cúpula do PT como candidato do partido ao governo de São Paulo, mas apesar de toda a exposição de mídia ainda é um pré-candidato em fase formação, especialmente no interior do Estado, mais refratário ao PT, a se julgar pelas últimas eleições. Por isso é importante para Padilha utilizar ao máximo a visibilidade que lhe permite o cargo de ministro.

As duas ministras que integram o núcleo decisório do Palácio do Planalto também devem sair para disputar as eleições, a menos que Dilma peça para elas permanecerem em seus cargos: Gleisi Hoffmann, o nome mais competitivo que o PT do Paraná tem para a disputa do governo do Estado, e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), provável candidata ao Senado, apesar de outros setores do PT de Santa Catarina reivindicarem a indicação.

A substituição de Gleisi e Ideli deve dar o contorno do ministério da campanha da reeleição de Dilma. Dois nomes são falados no PT, ambos políticos com história no partido, no Congresso e no governo: Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini. O primeiro iria para o lugar de Gleisi e o segundo, para as Relações Institucionais. Os dois são petistas aguerridos, mas têm problemas tanto internos como com os aliados da coligação governista.

Mercadante, além de ir com muita sede ao pote e demonstrar um desmedido apetite de poder, tem problemas com o atual e o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros e José Sarney. Os dois têm influência no PMDB e na elaboração da pauta do Senado, e o governo não poderá brincar em serviço, na campanha da reeleição, nem com os pemedebistas nem com a agenda do Senado, como também ficou demonstrado nas últimas votações. Basta lembrar a votação recente de vetos da presidente - e os que mais interessam ao governo ainda nem sequer foram a voto.

Contra Berzoini pesam sua relação com os aloprados que elaboraram um dossiê com supostas denúncias contra o PSDB e as investigações sobre o desvio de recursos da cooperativa habitacional dos bancários de São Paulo para um hipotético caixa 2 do PT. Mas também as desavenças que mantém com o grupo ligado ao ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS). O remanejamento de um (Mercadante) e a indicação de outro (Berzoini) só dependem de Dilma e de ambos desistirem de mandato.

Fonte: Valor Econômico

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