Andrea Jubé
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff voltou do recesso com uma pendência na área política capaz de influenciar o desempenho do governo no último ano de mandato e a formação da chapa à reeleição. O desafio de Dilma na reforma ministerial, que começa neste mês, é equacionar os interesses dos novos aliados, sem melindrar o principal parceiro, o PMDB, e sem comprometer o funcionamento da máquina. Uma liderança pemedebista disse ao Valor que o partido pode apoiar Aécio Neves (PSDB) se perder espaço no primeiro escalão.
O foco das mudanças é o tempo de propaganda, que Dilma quer ampliar, e simultaneamente impedir que os minutos cobiçados migrem para os adversários. Para isso, ela precisa atrair o PTB, ampliar o espaço do PP e, no mínimo, preservar o PMDB, que apesar dos cinco ministérios, quer mais uma cadeira na Esplanada. As três siglas pleiteiam a pasta da Integração Nacional, que era da cota do PSB, até o desembarque da sigla da base.
Ontem o ministro da Educação, Aloizio Mercadante - cotado para a Casa Civil -, afirmou que a presidente vai iniciar uma série de consultas para executar as mudanças. Ele considerou "mera especulação" as informações divulgadas até agora sobre a reforma e evitou responder se vai mesmo suceder Gleisi Hoffmann na Casa Civil: "Você está na coletiva errada."
No fim do ano, Dilma anunciou que faria as mudanças de forma fatiada, entre meados de janeiro e o Carnaval. A sinalização é de que as mudanças comecem pela Casa Civil, com a saída de Gleisi programada para o fim do mês, quando ela intensifica a pré-campanha ao governo do Paraná. Antes ela sai de férias entre 13 e 23 de janeiro. Na volta, passa o bastão ao sucessor.
A eventual nomeação de Mercadante significará levar a campanha para dentro do Palácio do Planalto. Há meses, Mercadante se dedica ao que ele próprio chama de "agenda clandestina", ou seja, a coordenação da pré-campanha à reeleição. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mentor de Dilma, estimularia a escolha, para facilitar o acesso de Mercadante à presidente. O cargo o colocaria a apenas um lance de escadas de Dilma, no quarto andar do Palácio. Com isso, ambos discutiriam, a qualquer hora do dia, os rumos da campanha.
Corre por fora o nome do secretário-executivo da Previdência Social, Carlos Gabas, diligente gestor da saúde das contas públicas. Trata-se de um funcionário de carreira do governo federal, que se aproximou de Dilma ainda na gestão de Lula. A afinidade entre os dois é tão evidente, que Gabas levou a presidente para um passeio de moto em sua Harley Davidson.
Um dos maiores nós da reforma é o Ministério da Integração Nacional, considerado uma vitrine para os políticos da Nordeste, por causa das políticas públicas que conduz, como obras de irrigação, construção de cisternas e a integração das águas do Rio São Francisco - um dos carros-chefes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O PMDB já pleiteou o cargo e indicou o senador Vital do Rêgo Filho (PB). Fontes do Palácio afirmam, entretanto, que o PP está cotado para assumir a cadeira, que pode ir para o presidente nacional da sigla, senador Ciro Nogueira (PI). O PP comanda o Ministério das Cidades, mas reivindica mais espaço no primeiro escalão, depois de se fortalecer na Câmara: ao formar um bloco com o Pros, as duas siglas emergiram como a terceira maior força, atrás de PT e PMDB, e à frente do PSDB.
Em troca, o PP acena com cerca de um minuto de tempo de televisão, que não cedeu para nenhum candidato em 2006. Um dos principais articuladores da nomeação de Nogueira é o governador do Ceará, Cid Gomes, que trocou o PSB pelo Pros, para apoiar a reeleição de Dilma. O ministro interino da Integração, Francisco Teixeira, é afilhado político de Cid.
O PTB também reivindica a Integração para seu presidente interino, Benito Gama, acomodado em uma vice-presidência do Banco do Brasil. De igual forma, acena com o tempo de televisão para a campanha de Dilma, que em 2006, ficou com os tucanos. Outra possibilidade é nomear Gama para o Turismo, atualmente sob o comando do PMDB. O Turismo foi da cota do PTB no governo Lula, quando o titular era Walfrido dos Mares Guia. O atual ministro, Gastão Vieira (MA), deixará o cargo para concorrer à reeleição para a Câmara.
No entanto, o PMDB não quer nem ouvir falar em perder um de seus ministérios, afora o risco de ficar sem a Integração. "Não creio que a presidente vai ter coragem de procurar mais essa briga com o PMDB", alerta uma liderança da sigla. E invoca a matemática: "Juntos, os tempos de televisão do PP e do PTB não alcançam o do PMDB".
Esta liderança afirma que se o PMDB perder um ministério, e ficar sem a Integração, avaliará a hipótese de apoiar Aécio. E enumera os Estados onde PMDB e PSDB poderiam se aproximar: Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão, onde os palanques com o PT estão ameaçados.
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário