terça-feira, 7 de janeiro de 2014

'Governo faz tapa buraco em véspera de eleição', diz senador em entrevista

Entrevista – Álvaro Dias, senador do PSDB (PR)

Conhecido pelas frases de efeito e críticas ácidas ao governo, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que várias vezes foi líder e vice-líder de seu partido no Senado, faz, nesta entrevista ao Brasil Econômico, jus à sua fama de opositor feroz do PT no Palácio do Planalto. Para ele, o governo Dilma Rousseff é responsável pelos principais males da política e da economia. Diz que a gestão petista é fisiologista, se apropriou de programas do PSDB — como o Bolsa Família — e está acabando com a oposição: “Só governos medíocres tentam esmagar a oposição. É o que ocorre hoje”.

Edla Lula

Em seu discurso de encerramento do ano o senhor mencionou que 2013 não acabou. Porque?

As reformas essenciais para o país não foram realizadas. E o governo não protagonizou providências que respondessem aos reclamos das ruas.

Quais providências?

A primeira delas deveria ser a reforma administrativa. O governo deveria mudar o sistema vigente, de aparelhamento e de loteamento. Foi isso que fez com que a estrutura de governo crescesse exageradamente e aumentasse as despesas correntes. Os dados de crescimento das despesas correntes são alarmantes. Há estudos que mostram um crescimento para 18% do PIB ou, outros, para 23%. A estrutura pública foi transformada num enorme paquiderme lento, cansado e sem operacionalidade. Essa é a principal reforma que deveria acontecer e não aconteceu.

E a reforma tributária?

O governo adota política do tapa buraco em véspera de reeleição. Na primeira chuva, as crateras são reabertas. Vai adotando medidas paliativas e não ousa fazer a reforma tributária porque teme perder receita. O governo não tem visão estratégica de futuro. Se tivesse, saberia que no médio e longo prazos a reforma tributária resultará em uma arrecadação maior.

A reforma política chegou a ser discutida, mas não avançou...

Reformas em profundidade só ocorrerão se houver interesse e participação direta de quem preside o país. A coordenação, o comando, tem que ser da Presidência, em razão da força imperial que tem o Executivo sobre o Legislativo. E quem governa tem como horizonte temporal apenas a duração do seu mandato e não ousa promover reformas que trarão resultados só mais na frente.

O sr. concorda com a tese de que não há oposição hoje no país?

O país não tem oposição ou a oposição existente é insuficiente porque ela foi reduzida à mediocridade numérica. Não temos força para dar volume às nossas ações. Essas ações não impactam. Há vozes isoladas na oposição e eu sempre pretendi ser uma delas. Infeliz da Nação que não tem uma oposição forte e competente. Só governos medíocres procuram esmagar a oposição. É o que ocorre hoje.

Há analistas que dizem que a dificuldade em fazer oposição está no sucesso dos programas sociais do governo atual.

Ninguém consegue apontar um só programa social criado por este governo. Ele herdou programas sociais já existentes e apropria-se indevidamente de feitos anteriores. O Bolsa Família, que é o carro-chefe deste governo, foi criado no governo do PSDB. Dar ao PT todos os méritos pelos programas sociais é uma injustiça contra os que antecederam o atual governo. O que enfraqueceu a oposição foi esse sistema do balcão de negócios, da promiscuidade absoluta que é matriz dos governos corruptos. O governo faz a cooptação com recursos públicos, distribuindo cargos e verbas. Usa propaganda enganosa e a contabilidade criativa para passar a ideia de que estamos no paraíso.

O que é criativo?

Coisas que antes a presidenta vetava, como a reabertura dos prazos para que as empresas paguem seus débitos tributários, o Refis. O governo esperava arrecadar, com isso, R$ 15 bilhões para ajudar nas contas públicas. Teve o leilão do campo de Libra, outros R$ 15 bilhões. Tudo isso pra compor o superávit.

O senhor está entre os que defendem a saída do ministro Guido Mantega da Fazenda?

Mantega só poderia ser ministro da Fazenda no governo do PT, que aceita a incompetência como regra. Porque a partir de suas previsões desastradas, que causam danos ao mercado, a sua permanência no governo consagra a incompetência que há. Tudo o que vemos na economia são medidas tímidas adotadas em momentos de crise, não há inovação e não há planejamento.

Qual seria o perfil do ministro da Fazenda?

Qualificação técnica e capacidade para planejar, se antecipar aos fatos. Este governo não consegue se antecipar aos fatos porque não tem capacidade de planejamento.

Fonte: Brasil Econômico

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