Marina Silva e Eduardo Campos enfrentam as primeiras agruras no relacionamento. Mas uma intriga do "ex-" de ambos – o PT – pode uni-los novamente
Alberto Bombig e Leopoldo Mateus
O casal fetiche da política brasileira - Marina Silva e Eduardo Campos - enfrentou, na semana passada, um fantasma que assombra qualquer relacionamento: as intrigas do "ex". O PT, ex-partido de Marina e ex-aliado de Campos, divulgou na internet uma nota amargurada, em que chamou o governador de Pernambuco de "tolo" e disse que Marina planeja trair Campos e tirar dele a condição de pré-candidato ao Planalto. A paulada foi desferida num momento em que os dois políticos enfrentam as primeiras agruras no relacionamento.
Quatro meses atrás, quando Marina Silva e Eduardo Campos anunciaram em Brasília a união de seus projetos políticos, o clima era de confraternização. Como nas mais tradicionais celebrações políticas desse tipo, os dois juraram fidelidade ao compromisso assumido pelo PSB dele e pela Rede Sustentabilidade dela: construir uma candidatura alternativa à polarização PT-PSDB, que desde 1994 domina as eleições presidenciais no Brasil. Marina, na frente de dezenas de testemunhas, assinou sua filiação ao PSB, pois a Rede não conseguiu o registro oficial na Justiça. Depois do foguetório na cerimônia e da lua de mel apaixonada, segue-se, agora, o longo período de ajustes que acontecem sempre que um casal vai morar junto. Apesar de unidos, os dois partidos iniciaram 2014 mostrando que estão distantes em vários aspectos e precisam discutir a relação.
"Nós casamos sem namorar e agora estamos nos conhecendo melhor. Não há guerra, mas ponderações dos dois lados que precisam ser discutidas", disse o deputado federal Beto Albuquerque (RS), da Executiva Nacional do PSB. Como em qualquer casamento, o principal problema são as diferenças de estilo. Em termos políticos, Campos é "sociável" e Marina "retraída". O PSB tenta a todo custo fazer alianças regionais, importantíssimas na política brasileira - e a Rede, em vários lugares, vem emperrando o processo. Desde que entrou no PSB, Marina tem dito que não quer apoiar candidaturas petistas ou tucanas nos Estados.
O principal problema está em São Paulo, decisivo em qualquer eleição presidencial. Emissários de Campos chegaram a fechar um acordo para que o PSB apoiasse a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo do Estado. Em troca, o partido indicaria o vice da chapa. O grupo de Marina se insurgiu contra o arranjo. "Nós defendemos uma alternativa própria. O modelo do SDB para São Paulo existe há 20 anos e se esgotou. Não dá para falar em renovação da política e apoiar um modelo como esse", disse Célio Turino, um dos porta-vozes da Rede em São Paulo.
Diante dos protestos da Rede, o PSB rapidamente voltou atrás no acordo com Alckmin e anunciou que ainda discute uma alternativa para São Paulo. Reservadamente, no entanto, a cúpula do PSB ainda nutre esperanças de apoiar Alckmin e garantir um palanque forte para Campos no Estado. Segundo apurou ÉPOCA, Campos aceitou retroceder neste momento porque, antes de qualquer outro objetivo, quer amarrar Marina como sua candidata a vice-presidente. Uma vez consolidada a chapa nacional à Presidência, o PSB aposta que Marina teria de apontar também uma solução para São Paulo - e dificilmente encontraria um nome eleitoralmente viável. Dessa forma, a aliança com Alckmin voltaria a ser discutida, porque daria a Campos e a Marina um palanque forte no maior colégio eleitoral do país.
Outra possibilidade seria uma aliança entre o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) e o presidente da Fiesp e pré-candidato ao governo paulista, Paulo Skaf (PMDB). Na hipotética composição, Kassab concorreria ao Senado, Skaf ao Palácio dos Bandeirantes, e a vaga de vice na chapa sobraria para o PSB, criando um palanque forte e exclusivo para Campos no Estado. Skaf e Kassab não são tucanos nem petistas, ou seja, não pertencem aos partidos que Marina rejeita. Mas a hipótese tampouco empolga os integrantes da Rede. "A ideia é uma terceira via em todos os lugares onde for possível", diz o deputado federal Walter Feldman, que acompanhou Marina na ida para o PSB. A preferência da Rede seria por uma candidatura própria em São Paulo, a partir de uma composição com PPS e PV.
"A opinião da Marina será respeitada, considerada, mas a opinião dos 230 mil filiados do PSB também será respeitada. Vamos tentar encontrar algo que contente a todos os lados, e, se não der, a gente vai respeitar como se fossem dois partidos", diz o deputado federal Márcio França, presidente do PSB paulista. Na prática, como diz França, PSB e Rede já funcionam como dois partidos. Inclusive moram em "casas separadas". Logo que a Rede ingressou no partido, o PSB propôs dividir a mesma sede, e a Rede chegou a cogitar a hipótese. Pouco tempo depois, o partido de Marina recusou o convite. "Onde não houver consenso, podemos andar separados. Mas com certeza estaremos unidos no compromisso nacional", afirma Beto Albuquerque. "Dificuldade do ponto de vista programático não tem acontecido", diz Feldman. "Os encontros em São Paulo, tanto municipal quanto estadual, foram muito interessantes e apareceram muitas semelhanças entre as visões dos partidos."
Nesse contexto, o ataque do PT na internet foi providencial. Nada como um inimigo externo para fortalecer um casal. "Campos foi levado a colocar dentro de seu ninho pernambucano o ovo da serpente chamado Marina Silva (...) Como até os tubarões de Boa Viagem sabem que o objetivo de Marina é se viabilizar como cabeça da chapa presidencial pretendida pelo PSB, é bem capaz que o governador esteja pensando com frequência na enrascada em que se meteu", diz um trecho do texto apócrifo publicado no site do PT. Em outro trecho, Campos é chamado de "playboy mimado".
A paulada petista não uniu apenas o casal, mas também suas respectivas "famílias". "Esse ataque só revela a intolerância dos petistas a qualquer tipo de crítica e de oposição", disse o senador Rodrigo Rollemberg (DF), líder do PSB no Senado. "O texto tem uma linguagem que nos espanta ao ser usada pelo PT", afirmou Célio Turino, da Rede. A cúpula da Rede dá como certo Marina ser vice de Campos - e a tendência é que, aparando arestas como a de São Paulo, o anúncio seja feito já no início do ano. Os próximos passos desse xadrez devem ser dados nesta semana. No dia 13, haverá uma reunião da Rede, em Brasília. Quatro dias depois, a previsão é de que Eduardo Campos promova um encontro para montar sua equipe. Até o fim do mês, as definições devem começar a acontecer. Socialistas e marineiros garantem que o relacionamento prospera. Na alegria e na tristeza.
Revista Época
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