Partido teme que prefeito prejudique eleição de Padilha ao governo de São Paulo
Sérgio Roxo
SÃO PAULO - Com a popularidade em baixa e desgastado por episódios como a tentativa de aumento do IPTU e a máfia dos auditores fiscais, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, frustrou, após um ano no cargo, a expectativa da direção do PT de transformar a sua gestão em vitrine para o partido acabar com a hegemonia de 20 anos do PSDB no governo do estado. Nos bastidores, é clara a crise entre a legenda e o ex-ministro.
O governo Haddad é visto hoje pelos petistas muito mais como um obstáculo do que como trunfo para as pretensões de eleger o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em outubro, e de ajudar no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mentor da candidatura do seu ex-ministro da Educação, tem demonstrado preocupação com os rumos da gestão de um de seus “postes”, apesar de os dois ainda conversarem diariamente ao telefone, de acordo com um assessor do prefeito.
Após desbancar na primeira disputa eleitoral de sua vida o ex-governador, ex-prefeito e duas vezes candidato a presidente José Serra (PSDB) na eleição do ano passado, Haddad enfrentou uma série de dificuldades nos primeiros 12 meses no cargo. Por causa de decisões da Justiça, não conseguiu acabar definitivamente com a inspeção veicular nem engrossar o caixa da cidade com reajuste de até 35% do IPTU. Também desistiu de obras que impulsionariam o projeto de Arco do Futuro (plano para decentralizar o foco de desenvolvimento da cidade), uma das principais bandeiras de sua campanha.
No meio do caminho, ainda foi atingido em cheio pela onda de manifestações de junho. Foi por causa do aumento de R$ 0,20 da passagem dos ônibus anunciado em maio por Haddad que os protestos começaram e ganharam todo o país. O petista inicialmente bateu o pé e afirmou que não voltaria atrás. Porém, depois de ver a sede da prefeitura ser atacada por vândalos, recuou e anunciou a redução da tarifa ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), na sede do governo estadual.
Para os petistas, a união ao tucano na hora de anunciar a “bondade” esperada pela população foi um erro estratégico, que contribuiu para o desgaste da gestão. O argumento de Haddad é que Alckmin havia aceitado junto com ele o pedido do governo federal para adiar o reajuste dos preço da tarifa do trem e do metrô do começo ano para não elevar a inflação. Assim, seria necessário também agir conjuntamente no momento da redução das passagens.
Estratégias políticas à parte, o fato é que o prefeito viu a sua popularidade despencar depois das manifestações. No começo de junho, antes dos protestos ganharem corpo, 34% dos paulistanos consideravam a gestão ótima ou boa e apenas 21% ruim ou péssima, segundo o Datafolha. No final do mesmo mês, os índices mudaram para 40% de ruim ou péssimo e apenas 18% de ótimo ou bom. Na última pesquisa, divulgada em dezembro, o índice de ótimo ou bom se manteve em 18% e o de ruim ou péssimo, oscilou para 39%.
Mesmo reconhecendo o impacto negativo das manifestações, internamente, a gestão atribui boa parte da má avaliação aos problemas na área da Saúde. A gestão do secretário José de Filippi Junior, homem de confiança de Lula e caixa das campanhas presidenciais petistas de 2006 e 2010, está na corda bamba.
Os aliados de Haddad também reconhecem problemas na comunicação. Dizem que o prefeito, pelo estilo discreto, não consegue se vincular a medidas, como a criação de 295 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, que são bem avaliadas em pesquisas internas da administração. Os dirigentes petistas cobram uma estratégia mais agressiva de comunicação para divulgar medidas positivas, como o bilhete único mensal, implantado em novembro.
Líderes do partido também se queixam que Haddad não escuta o partido. Já os aliados mais próximos, argumentam que o prefeito não embarca em factoides.
— É natural esse ataque do partido ao prefeito, que é um homem de convicção e está fazendo o que acha certo para a cidade sem se preocupar com indicadores de popularidade — afirma o secretário de Comunicação, Nunzio Briguglio.
Os integrantes do PT acreditam que o ex-ministro trocou a política por uma gestão técnica.
— Combate à corrupção não pode ser bandeira de um governo. Tem que combater, mas não pode transformar isso em marca de gestão porque a população entende como obrigação — afirma um dirigente petista, em referência às investigações internas da administração para desbaratar a atuação da máfia de fiscais que cobravam propina para sonegar ISS.
Sem poder atacar rivais
No episódio, Haddad viu o seu principal secretário, Antonio Donato (Governo), ser tragado pelo escândalo que inicialmente tinha como alvo a gestão do antecessor, Gilberto Kassab (PSD). Depois de seguidas revelações de ligação com o grupo investigado, Donato se viu obrigado a pedir demissão.
— Também surgiram denúncias contra secretários do Alckmin no caso das propinas das obras do metrô e ninguém saiu — se queixa um petista.
Os petistas veem o dedo de Kassab, cuja gestão havia sido atacada por Haddad dias antes, na divulgação das denúncias contra Donato.
Os aliados do prefeito se queixam das amarras políticas impostas pelas alianças partidárias petistas. Reclamam, por exemplo, da falta de apoio da legenda para confrontar o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), por ter veiculado propagandas na TV para criticar o aumento do IPTU na cidade.
A aliança com o PSD de Kassab no plano federal também impede confrontar as mudanças na cidade com o que era feito antes.
Para aproximar o partido da gestão paulistana, os presidentes estadual e municipal, Emídio de Souza e Paulo Fiorilo, farão reuniões mensais com Haddad.
Fonte: O Globo
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