Fernando Taquari, Cristiane Agostine, César Felício e Cristiano Zaia
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Escalado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) para contornar o princípio de crise com o PT, o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), descartou ontem a possibilidade de o partido romper a aliança nacional com o PT, conforme chegou a sugerir no Twitter o líder pemedebista na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ). "Estou trabalhando para apaziguar essa questão, para que a paz possa voltar. Não podemos ficar nesse cabo de guerra por muito tempo. Isso não é bom para o país", afirmou Raupp.
O senador pretende procurar Cunha para conversar sobre a insatisfação dos pemedebistas com o governo Dilma Rousseff. "O Brasil não precisa de uma crise política agora", acrescentou o senador. O PMDB, que comanda cinco ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo, Aviação Civil), luta por mais espaço no governo, enquanto a presidente Dilma ainda não concluiu a reforma ministerial.
Ontem o líder do PMDB na Câmara voltou ao Twitter para esclarecer declarações sobre a defesa do rompimento da aliança com o PT. Cunha afirmou que não falou em "romper" e sim em "repensar" a união com a legenda da presidente. O pemedebista disse ainda que seguirá a maioria do partido e a opinião da bancada, mesmo que diferente da sua.
"Quando falei em repensar, não falei ainda em romper, e sim em rediscutir os termos dessa aliança, na qual não somos respeitados", disse. Mesmo assim, reitera sua insatisfação. "A realidade dessa aliança, nos termos que estão, e debaixo de agressões, como as do presidente do PT, não atendem ao PMDB"
Um dia antes, na rede social, Cunha escrevera ainda que por onde passa o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), "mais difícil fica a aliança".
Ontem Cunha afirmou que a decisão sobre o PT não depende apenas dele, o que pode revelar a pressão sofrida. "Não sigo e nem seguirei a minha vontade e sim a da maioria da bancada", afirmou. "Romper ou não, convocar ou não convenção, não cabe a mim e sim à maioria do partido", completou.
Não foi a primeira vez que o deputado pregou a ruptura com PT. Em setembro, reagindo a declaração do governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT), Cunha disse que parte do PMDB pensa como Tarso e também não quer aliança em 2014. Tarso havia dito que o PT deveria buscar alianças com afinidade programática.
Apesar do recuo de Cunha deputados que lhe são próximos continuaram no bombardeio. "Lula é a pessoa mais indicada para dar continuidade ao processo político. É querido por todos os partidos da base e pode agregar até na oposição, atraindo Eduardo Campos (governador de Pernambuco e presidenciável do PSB). Ele transita dentro do próprio empresariado nacional", disse ao Valor PRO o vice-líder do PMDB na Câmara, Danilo Forte (CE), ex-presidente da Funasa no segundo mandato de Lula. Segundo Forte, "cada vez mais se faz necessária a presença de Lula, ao menos como mediador e avalista político. Se o Lula não assumir as responsabilidades que forem surgindo, a aliança entre PMDB e PT pode ir para o espaço".
Nesta terça-feira, o PMDB deve reunir sua bancada na Câmara e, de acordo com Forte, pode ser formalizado o pedido de uma pré-convenção nacional para rediscutir a aliança nacional, que aconteceria no próximo mês. "Temos a confirmação de 14 assinaturas de diretórios. Para o pedido ser analisado, são necessárias nove", disse o parlamentar. A pré-convenção, segundo Forte, poderia sinalizar que o PMDB ficaria neutro na eleição presidencial, liberando o partido para composições regionais com adversários da presidente. Mas a posição oficial do partido só pode ser tomada em junho, data legal para as convenções partidárias.
Segundo outro vice-líder pemedebista na Câmara, o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), "já existe um forte movimento de rompimento com o governo e o PT", afirmou. A insatisfação do partido está dirigida contra o presidente nacional do PT, Rui Falcão. "Ele só pretende desmoralizar e dividir o PMDB", disse Vieira Lima. O dirigente petista esteve segunda-feira no sambódromo do Rio e deu declarações ao jornal "O Dia" se queixando da posição de confrontação adotada pela bancada pemedebista nos últimos dias. "Em ano eleitoral um ataque desses tem efeito em nossa base e pode forçar uma ruptura", afirmou Vieira Lima.
No Rio, o governador Sergio Cabral (PMDB) não pode se reeleger e lançou como seu candidato o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Cabral está com a imagem pública desgastada desde os protestos de rua de junho do ano passado e não conseguiu o apoio do PT, que lançou a candidatura do senador Lindbergh Faria. A ruptura da aliança no Rio já é considerada consumada dentro do próprio PMDB e descrita como episódio mais emblemático do distanciamento entre o PT e o PMDB. " O PMDB é um partido de base regional, sobrevive assim e agora o PT está buscando o nosso espaço nos Estados. Não está simplesmente tentando se estruturar, está se tornando o nosso antagonista", disse Forte.
O presidente nacional do PT evitou comentar as declarações do líder pemedebista.
A relação entre PT e PMDB pautou parte da conversa de ontem de Dilma com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Alvorada.
O tema já havia sido o mote da conversa, há duas semanas, de Lula com dirigentes petistas, em São Paulo. Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), Lula teria pedido mais diálogo com o partido aliado.
Vicentinho minimizou a pressão feita pelo PMDB e a possibilidade de rompimento da aliança, levantada por Eduardo Cunha, e disse que Michel Temer não vai abrir mão da vice na chapa de Dilma. "Seria uma atitude drástica do PMDB", afirmou.
O líder do PT disse que o partido não vai pressionar para que o PMDB saia do governo, mas afirmou que a legenda não vai recuar nas negociações de alianças nos Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, o PT deixou o governo de Sérgio Cabral (PMDB) e lançará candidatura própria, do senador Lindbergh Farias, contra o candidato do PMDB, o vice-governador Luiz Fernando Pezão. "Não podemos nos anular. Não vamos nos descaracterizar", disse Vicentinho. "E o PMDB não pode dizer que não é respeitado pelo PT. Não cola", afirmou. (Colaborou Carmen Munari, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico
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